quarta-feira, dezembro 31, 2003

Boas entradas!

Desejos de uma boa passagem de ano e um 2004 a correr bem, para os leitores do Ilha Perdida e para os outros.
E, já agora, que o Ilha Perdida continue entre nós para o ano.

quarta-feira, dezembro 24, 2003

Feliz Natal!

Desde criança que o Natal me faz pensar naqueles que não o podem ou não têm razões para o festejar, da mesma forma que os solteiros assistem ao dia dos namorados. O Natal é a época mais feliz do ano, mas só para alguns.

domingo, dezembro 21, 2003

O Regresso do Rei

Como fã do Senhor dos Anéis, e depois de ter visto o terceiro filme, fiquei suficientemente desiludido para fazer aqui uns quantos comentários.
Se os 3 filmes foram feitos ao mesmo tempo, não se pode dizer que isso dê para notar, pelo contrário. O primeiro filme está muito bem elaborado, é fiel à história e interessante de se ver. Com toda a espectativa gerada, e a exigência natural de quem leu os livros e é fã da saga, conseguiu corresponder. Não se limita a ser comercial e tem uma preocupação de qualidade.
No "As Duas Torres", a coisa começa a mudar um pouco. Tornou-se mais comercial, não se limitou a cortar pedaços do livro e achou por bem mudar outros, para tornar alguns acontecimentos mais espectaculares ou "video friendly". Continua a ser bom, ainda que pior que o primeiro para os fãs, melhor para o resto do público.
Em "O Regresso do Rei" é o descalabro. Cortaram-se partes da história sem que o tempo que ficou, e foram mais de 3 horas, tenha sido bem aproveitado. É o único dos três que consegue parecer longo demais, e no final do filme chegou-se mesmo a sentir alguma agitação e impaciência na sala de cinema. Falta ritmo a história, e essa falta de ritmo nem se pode justificar por querer ser fiel ao livro, que não foi o caso relativamente aos dois primeiros.

Sim, se calhar era eu que estava sem disposição por ter dormido pouco. Ou, talvez mais importante, foi um problema de espectativas demasiado elevadas. De qualquer forma, e tinha perfeita noção antes de ir ao cinema, o terceiro livro é sem dúvida e de longe o mais díficil de passar para filme, e isso ainda aumentou mais a espectativa. Fiquei um pouquinho desiludido.

sábado, dezembro 20, 2003

O costume

Não, este blog não está numa crise existencial. É mesmo uma questão de falta de tempo.

Ter feito o Ilha Perdida sozinho em vez de em conjunto com outras pessoas foi mais uma questão de oportunidade que de opção. As consequências, já imaginava na altura, são algumas. Os espaços de tempo vazios, por exemplo. Umas vezes por falta de tempo. Outras por falta de vontade. Já para não falar de quando o problema é mesmo falta de assunto, ou sentir que o que tenho a dizer foi dito melhor por outros, e não ha muito a acrescentar.
Por outro lado, e cada vez tenho vindo a sentir mais isso, traz um problema de diversidade e empobrecimento. Um blog com duas, três, quatro pessoas, teria a partida mais temas abordados, dinâmica, polémica. Em suma, mais interesse, da mesma forma que é mais interessante assistir a um diálogo que a um monólogo.

domingo, dezembro 14, 2003

Falácias iraquianas

Queria comentar o texto de um amigo meu, disponível aqui, mas que transcrevo integralmente para não correr o risco de fazer citações fora do contexto. Este texto é interessante porque representa muito do sentimento europeu em relação a Guerra no Iraque, e apoia-se em muito dos mitos e falácias que vemos discorrer por muitos.

"Já ando a pensar em escrever sobre a situação do Iraque à alguns dias, mas é
tal a complexidade do assunto que me tenho vindo a retrair de o fazer, não
querendo ser absolutista nem nada que o parece aqui vão algumas questões que me andam a perseguir já á algum tempo.

Porque se considera os iraquianos que andam a matar os americanos de pistoleiros, assassinos e terroristas e se defendiam os valentes timorenses? Vistas bem as coisas não serão os fundamentos da resistência de uns e de outros os mesmos? Os timorenses lutavam pela sua independência e os iraquianos lutam pelo seu território que foi invadido por estranhos á força, não será normal que eles se revoltem contra essas mesmas pessoas?"


Eles quem? Estas a tentar dizer-me que quem leva a cabo os atentados terroristas é o cidadão comum iraquiano revoltado com a usurpação do regime?
A comparação com os timorenses não vou comentar. Devias consultar algumas sondagens feitas no Iraque pós “ocupação”, que são sem dúvida a melhor aproximação possível ao sentimento da população iraquiana, e trazem resultados surpreendentes para muitos dos que se arrogam a incarnação dos interesses iraquianos contra a ocupação americana. Revelam, por exemplo, que aquelas personagens que aparecem nas TV´s a corroborar a tua interpretação da realidade, nem sempre representam o sentimento maioritário.

"Depois há a guerra da comunicação e nesse aspecto penso que nós (Europa e
América) estamos tão limitados como os iraquianos, lembro-me de ver vezes sem
conta aquela imagem da estatua do Saddam a ser derrubada. Será que se os iraquianos estivessem assim tão contentes pela vinda dos americanos (os salvadores) estaríamos agora a ver todos os dias mais e mais mortos do lado dos americanos? A mim parece-me claro que foi uma estratégia para tentar calar as vozes que se levantavam contra a invasão do Iraque, como a dizerem-nos "vêem como eles estão todos contentes em nós termos vindo cá salva-los das garras do terrível ditador!!"

Lembro-me de ouvir um jornalista português a dizer que as populações como viam que nada podiam fazer quanto ao avanço das tropas americanas tentavam ao menos receber alguma comida que eles trouxessem, ao seja, seguiam o velho ditado, "se
não consegues vencê-los junta-te a eles.""


Que dados te permitem dizer que durante a invasão, em zona alguma do Iraque, se fez sentir o mais pequeno levantamento popular em defesa do regime ou contra a chegada americana? Ou pelo menos que essa vontade existia, para ter de ser refreada?

"Outra coisa que me deixa a pensar é quando ouso o senhor Bush, é que este
senhor parece que se acha mesmo o modelador do mundo, para este senhor todas as culturas devem seguir os padrões da sociedade americana, e se assim não for já são terroristas e coisas que tais, ou esta guerra não foi se não uma guerra de culturas? Armas nucleares, químicas ou biológicas ninguém viu, são os próprios peritos da ONU que estavam no Iraque os primeiros a dizer que não havia provas nenhumas como elas existiam.

Ouvi o senhor Colin Powel dizer que se os iraquianos não tinham armas de destruição maciça que o provassem, pergunto eu, como se prova isso?!! E se há alguém que tinha de provar alguma coisa esse alguém não seriam os EUA?!!"


Os peritos da ONU disseram que não havia prova da existência de armas de destruição massiça. Outra coisa que disseram, unanimemente, é que nunca o Iraque mostrou verdadeira colaboração para demonstrar que não as tinha. Será uma coisa absurda de se exigir?

"Lembro-me de ouvir uma menina árabe numa entrevista a dizer que eles não queriam a nossa liberdade, que essa liberdade só iriam trazer coisas más como a prostituição. Porque não deixamos que cada cultura cresça e se transforme pela sua própria vontade e iniciativa ? Ou será que nós portugueses teríamos gostado que alguém tivesse vindo cá a Portugal tirar o Salazar do poder?"

Repito a pergunta, acreditas que esse é o sentimento do cidadão comum iraquiano?
Acho que estas a fazer uma confusão enorme com valores importantes. De qualquer forma, se ha quem defenda a "liberdade" que exista no Iraque, também é verdade que o faz porque a liberdade trazida pelos "imperialistas americanos" lho permite.

Finalmente...

A captura de Saddam Hussein é uma vitória americana, a ser partilhada por todos, e pelos iraquianos em particular. Pelos nossos lados os sorrisos sinceros confundem-se com os forçados. Até tivemos direito a mais umas barbaridades da Ana Gomes. Nada a estranhar.

sábado, dezembro 13, 2003

Ainda falam de nós

A propósito da Constituição Europeia, Berlusconi garante "que as negociações não se podiam estender para além do meio-dia de domingo para que pudesse ver o jogo da Taça Intercontinental entre o AC Milan e o Boca Juniors."

quinta-feira, dezembro 11, 2003

A UE vista daqui

Dia após dia, assistimos ao aumentar da pressão por parte dos países grandes para fazer passar a Constituição Europeia. Dia após dia, assistimos aos avisos, à Polónia e à Espanha, das consequências que poderão acarretar no caso de votar o processo ao falhanço. Dia após dia, assistimos a esta corrida desenfreada de quem parece ter medo de parar um pouco para pensar e tomar o pulso ao que os europeus realmente acham do caminho que a União Europeia começa a seguir.
Assistimos, sem sequer fazer grande questão de participar.

segunda-feira, dezembro 08, 2003

Informação e opinião

Um post e outro muito interessante em O País Relativo, também referidos no Santa Ignorancia.

Este é uma tema geralmente abordado, e bem, pelo JPP, que devia preocupar a todos. Hoje em dia, quem tenha tido o mínimo contacto com actividade política ou de outra espécie, percebe que apenas existe aquilo que passa nos media. Os meios de informação têm, logo a partida, esse poder enorme de escolher quais as notícias que se justifica ou não serem passadas ao público, e qual o relevo que lhes deve ser dado. A concorrência entre os meios de informação e a lógica destes em seleccionar o tipo de notícias que mais captam a atenção do público, será provavelmente o critério de escolha. Mas nem sempre é assim, como é fácil de ver em certas situações. Os jornalistas têm, de facto, o poder de influenciar decisivamente a percepção que com que as pessoas ficam do que se passa.

Não quero resumir o meu comentário à esperteza saloia das bocas que a Manuela Moura Guedes faz questão de acrescentar no final das reportagens, e que obviamente pretendem marcar a ideia com que ficamos do que foi apresentado. Ou aos recorrentes inquéritos de rua, como refere o Santa Ignorância, em que o jornalista escolhe aquilo que supostamente pensam os portugueses. Nem tão pouco se resume à confusão entre comentário/opinião, por parte de comentadores que até são claramente comprometidos politicamente, como Santana Lopes ou José Socrates. Mais grave é quando as reportagens e as peças jornalísticas em si são direccionadas politicamente, e o fazem sob a capa da "imparcialidade" e da "verdade pura e crua" facultada a todos nós.

Antes de mais, a ideia da informação pura, absolutamente desinteressada e imparcial, é uma ilusão. Como refere O País Relativo, "Para que chegue a merecer o nome, a actividade de informar implica sempre intermediação; ela supõe sempre um exercício de escolha, depuração, confronto de versões, cruzamento de fontes e – também – o comentário plural"... "A ideia de que a «informação» é a transmissão em directo e não-mediada da «realidade» é um crasso erro epistemológico e uma perigosa fonte de demagogia política".
Como se pode explicar que existam jornais mais ou menos afectos ao governo? Que a cobertura da Guerra no Iraque seja tão díspare conforme feita pela imprensa de um ou outro país, mesmo que esta seja livre em qualquer deles? Para dar um exemplo mais nacional, como entender que quando Vilarinho se candidatou contra Vale e Azevedo, este surgisse como um vilão na TVI que disparava escandalos de dia para dia, e uma vítima na SIC?

É uma pena que a classe dos jornalistas, que tudo discute, seja incapaz de se discutir a si própria. Toda e qualquer crítica é respondida com o fantasma da ameaça a liberdade de imprensa e de informação. Mas o jornalismo também deve ser discutido. Quando um jornal ou uma televisão tem um dirreccionamento político, isso é legítimo, mas deve ser assumido perante o público. E as posições defendidas devem ser assumidas como posições, e não como informação. É o que acontece, para dar um exemplo, com a revista The Economist. A revista assume que foi a favor na intervenção do Iraque, ou da Globalização, ou do liberalismo político. E estas tomadas de posição não retiram força ou credibilidade às suas reportagens, ensaios e olhares da realidade. É uma questão de informar de uma determinada perspectiva das coisas, sem usar a capa da imparcialidade de que se esta apenas, pura e simplesmente, a informar.

quarta-feira, dezembro 03, 2003

Soluções fáceis

Tenho acompanhado com interesse a discussão entre o Comprometido Espectador, o Barnabé e o Complot. Em geral concordo com o Luciano Amaral, e tenho a mesma posição que ele sobre o assunto.

Em primeiro lugar, concordo que a questão fundamental é saber a partir de que momento podemos considerar que existe uma vida humana. À partida, não vejo nenhum argumento forte para não considerar que o feto é uma vida humana desde a concepção. Sendo assim, não é razoável que a lei entregue a uma das partes (a mãe) o direito a decidir livremente sobre a outra, que é a mais desprotegida. Podem-me dizer que a lei condicionaria o direito a abortar à verificação de certas condições sócio-económicas, etc, etc, mas sabemos que isso na pratica significa a liberdade de fazer um aborto.

O apoio que as "visões liberais" sobre este tipo de assuntos têm na sociedade, que é claramente maioritário nas pessoas mais novas, tem muito a ver com o facilitismo e leviandade com que se olham os problemas e se esquecem questões fundamentais, a bem do pragmatismo e da conveniência de ignorar verdades incómodas.
Se é isto a "nova direita", prefiro a "velha".

Mais uma intervenção brilhante...

...do nosso Presidente da Républica. Ultimamente têm saido coisas como esta, ou a recente e iluminada comparação com Espanha para criticar um suposto excesso de revisões constitucionais em Portugal.
Sampaio ainda não percebeu que a capacidade que tem para falar sem dizer nada é exactamente a sua maior (unica?) qualidade como chefe de estado. Quando decide dizer alguma coisa, é o que se vê.

domingo, novembro 30, 2003

Anti semitismo

Sobre o texto do Bruno, ja la expliquei o que queria dizer neste meu post com a expressão de "trauma sem razão de ser". O trauma, na verdade tem toda a razão de ser, não pode é ser invocado dia após dia para legitimar toda e qualquer atitude por parte de Israel. Como se assistissemos a uma conspiração mundial para exterminar os judeus.
Como um estudo agora muito falado concluiu, é verdade que existe anti-semitismo em grupos muçulmanos, pró-palestinianos e afins. Não me venham é convencer que o europeu médio é anti-semita, e considera Israel a maior ameaça à paz mundial com base na raça dos israelitas.

Dito isto, a posição do Respublica espelha exactamente aquele que, para mim, é o problema dos europeus. Um completa e chocante inversão de valores, protagonizada em boa parte pela intelectualidade europeia, que condena com timidez e incómodo, e nunca antes de um discorrer de "mas", as vitimas israelitas de atentados terroristas ou os mortos no atentado às Twin Towers. Que é implacável a julgar Israel e cega a julgar Arafat.

Nos até temos em Portugal uma versão do mesmo programa. Apenas um pouco mais extremada (ou mais clara?). Perguntem ao Bloco de Esquerda se considera terroristas aqueles que em Espanha usam bombas para defender ideias.

sexta-feira, novembro 28, 2003

Estado e TV

A propósito de um post do Adeonato... já há uns tempos que a história da RTP me anda a fazer confusão. O governo começou com umas ideias muito bonitas e depois, quando viu o que tinha pela frente, achou melhor esquecer o assunto (é impressão minha ou esta a tornar-se padrão?).

Estou-me nas tintas (para não usar a expressão de outros...) para qual a razão da RTP dar prejuízo. Alias, essa é uma discussão que só pode vir depois de outra, que é saber o que justifica que a RTP 1 seja uma televisão pública. Sim, alguém me sabe dar uma boa razão, além de passar os tempos de antena dos partidos quando há eleições? Assim de repente não estou a lembrar de mais nada.

Se me disserem que a CP, ou o Metro de Lisboa, estão a dar prejuízo, aí sim esta discussão faz sentido. Não estou a ver os privados a gerir o Metro, a cobrar o valor dos passes sociais, e a pagar dos seus bolsos o alargamento da linha a novas estações com o critério de servir a população, em vez de análise investimento / retorno. É claro, exige-se das suas administrações que sejam capazes e competentes. Mas, se ainda assim subsistirem prejuízos, temos o serviço que nos é prestado e que dificilmente poderia ser através dos mecanismos normais de mercado. É esse pormenor que torna legítimo sustentar os défices dessas empresas com dinheiros públicos.

Existe uma diferença fundamental entre o produto oferecido pela RTP 1 e o oferecido pela SIC? Ou pela TVI? Sublinho o pormenor do 1, porque o caso da RTP 2 é completamente diferente. Estamos a falar da RTP 1, e ainda ninguém me soube explicar o valor acrescentado da sua existência para o nosso bem-estar.

terça-feira, novembro 25, 2003

As contas do défice

Um bom texto do Bruno sobre o défice público, não podia estar mais de acordo.
O sucesso deste governo no combate ao défice não é mais que uma miragem. A oposição acha o mesmo, e naturalmente propõe que esqueçamos o problema. O governo acusa que é irresponsabilidade. E, para reforçar a ideia, o primeiro-ministro vem dizer que compreende aqueles que ao contrário de nos se estão nas tintas para as contas públicas. Se virmos bem, é natural que compreenda. As regras na europa são para quem as recebe, não se aplicam a quem as concebe.

Só é pena que os países a adoptar este comportamento sejam os mesmos que arrogam para si próprios a legimitidade de representar os anseios e as aspirações da integração europeia. Sim, é uma integração europeia muito diferente daquela a que nos temos habituado, sem aquelas nuances de generosidade, como O Comprometido Espectador refere. Mas parece que, como diria uma nossa conhecida, isso agora não interessa nada.

domingo, novembro 23, 2003

Surpreendido...

...com as novidades da Nova Democracia.
O congresso não trouxe nenhuma frase especialmente infeliz, e ainda resultou numa ou outra ideia interessante. Face as expectativas, pelo menos as minhas, não esteve nada mau.
A ideia que Manuel Monteiro veio agora defender, de instaurar um sistema presidencialista puro em Portugal, do tipo do existente nos EUA, é um exemplo ainda melhor. Parece-me uma boa ideia, mais não seja como mal menor a dificuldade de termos um sistema como o Inglês (que implicaria reinstaurar a Monarquia). O nosso Presidente da Républica é uma coisa que não se percebe muito bem, mas sobre isso já escrevi.
O que acho de aplaudir é que surjam novos temas no debate político, e que este não se limite apenas a gerir os problemas do dia-a-dia. Lançar ideias que nos façam pensar, porque nem tudo é ter de ser como é. Se a Nova Democracia conseguir esse prodígio, é razão suficiente para fazer sentir existir.

Previsibilidade

Vale ainda a pena ler este post da Carla. É interessante verificar como todos somos únicos e irrepetíveis, no bom e/ou no mau sentido. E, ao mesmo tempo, enquadráveis num ou noutro estereótipo social, que permite aqueles mais atentos e perspicazes prever com alguma fiabilidade o nosso comportamento em determinada situação.
A influência que a sociedade tem sobre nós é incontornável, seja por a aceitarmos ou fazermos questão de ser contra ela. Claro que ninguém gosta de sentir que é "rotulável", entre outras coisas por sentirmos e sabermos que o nosso "rótulo" dá uma imagem necessariamente limitada do que somos, do que pensamos. Ha muito mais a conhecer e a perceber. E, quem verdadeiramente nos conhece, põe-nos o "rótulo", mas sabe isso.
Uma coisa não impede a outra, e concordo com o Nelson:
"Alguém prever os nossos comportamentos não é mau. Por um lado é sinal de que a pessoa nos conhece bem, por outro é sinal que temos uma personalidade, que sabemos quem somos, que não andamos ao sabor da maré, ora com um comportamento, ora com outro.
Sermos originais é sermos únicos."

Estudantes e Propinas

aqui falei do assunto, a defender essencialmente o mesmo. Mas vale a pena ler o artigo de JPP no Público de 5a feira passada.

quinta-feira, novembro 20, 2003

Iraque e a Europa

Eles (americanos) foram para lá, agora desengomem-se. Aquilo das Torres subiu-lhes a cabeça, não vale a pena exagerar as coisas. E não ha caso para preocupações, o problema é entre eles.
Porque hão-de ir os nossos GNR´s arriscar a vida para o Iraque? Temos alguma coisa a ver com o problema?
Rebentaram mais umas bombas na Turquia? Temos pena. A culpa é dos EUA, se pensarmos bem os atentados até são em legítima defesa. E vistas as coisas, irmos para o Iraque até nos tornaria mais apetecível como alvo. Não, bora mas é ficar aqui de braçinhos cruzados. Se os americanos se sairem bem, sorte a deles. Caso contrário, é bem feita para não serem arrogantes. E não gostamos deles de qualquer das maneiras.

Eis o pensamento típico dos portugueses em particular, e dos europeus em geral.

Como dizia ontem Vasco Rato na SIC Noticias, o problema de Tony Blair não é que os EUA tenham ido para o Iraque, mas que venham a sair de la á pressa, com tudo o que isso implicaria. A ambiguidade e o cruzar de braços da Europa em relação ao Iraque, e a luta contra o terrorismo, é inquietante. Esta preocupação deveria ser não apenas do RU, mas da Europa, e de todo o mundo democrático.

quarta-feira, novembro 19, 2003

Nem tudo o que parece é

É curioso observar as manifestações anti-Bush em Londres, e ao mesmo tempo as conclusões de uma sondagem em que a maioria dos ingleses dá as boas vindas ao presidente americano.
Como no caso das lutas anti-propinas em Portugal, as manifestações são legítimas, mas o que tem força de mobilização não representa necessariamente a maioria. E esse é um pormenor que não se deve descurar, mesmo reconhecendo a capacidade única que o sr. Bush tem de semear inimigos.

domingo, novembro 16, 2003

Iraque

Faz já algum tempo que ando com a sensação descrita por JPP. É preocupante que assim seja, e a aproximação de eleições presidenciais nos EUA pode não augurar nada de bom.

Estadio do Dragão

Independentemente de filiações clubísticas, e depois do critério usado por Pinto da Costa para fazer os convites, é triste que ainda assim tantos políticos tenham feito questão de marcar presença. Como políticos, e não como cidadãos. Que um dirigente de um clube goste de fazer política é uma coisa. A política e os políticos deixarem-se fazer estes papéis é outra.

segunda-feira, novembro 10, 2003

Luta Anti-Propinas II

Faz parte do papel do Estado prover serviços como a justiça, a saúde, a educação, a segurança, etc. E deveria faze-lo de forma universal e gratuita. No entanto, tendo em conta a premente faltos de recursos, e as muitas áreas a que a intervenção do estado é chamada, alguns (e eu sou um deles) defendem que certos serviços devem ser tendencialmente pagos por quem tem a possibilidade de os pagar. Isto é, devem deixar de ser necessariamente gratuitos.

Contra esta ideia existe um argumento menos bom, que é o de que o nosso sistema fiscal não consegue com justiça estabelecer quem tem ou não possibilidades de pagar. Não são raros os casos de pessoas abastadas e sem dificuldades, e que conseguem apoios sociais para os seus filhos, sem se saber bem como. Iamos ter alguns ricos a receber apoio social, com outros menos ricos a pagar.
E existe um bom argumento, segundo o qual os impostos já têm uma natureza proporcional, por serem em percentagem. Além disso, são ainda progressivos, aumentando com o rendimento a proporção que é paga. Logo, se a justiça é feita na tributação, pode ser considerado injusto acentuar ainda mais essa “progressividade” quando do acesso a serviços públicos.

Apesar disso, é incontornável que cada tostão gasto a mais num lado implica menos gasto noutro. Nesse sentido, é perfeitamente razoável que quem tem a possibilidade de comparticipar os seus custos em saúde, educação ou justiça, o faça. Mais que razoável, faz todo o sentido, e por uma razão de justiça social. Essa compartição pode permitir uma prestação de serviço com mais qualidade, e mais importante, que quem não pode seja ainda mais apoiado. E isso deve ser explicado.
Era importante, para a mensagem ser passada, que o dinheiro das propinas fosse directamente para as universidades onde são pagas. E ainda para financiar programas que verdadeiramente apoiassem os alunos com dificuldades, e para os quais é de facto incomportável pagar uma propina, comprar um livro, ou arranjar alojamento.
É uma questão de justiça social. Tão simples quanto isto. Por todas as razões, ser contra as propinas pode ser tudo menos defender os interesses dos mais carenciados.

Quanto ao nosso sistema fiscal deficiente, embora importante, não é um argumento muito forte. Mais não seja porque é um argumento que pode ser usado contra qualquer esquema de apoio social. Se o sistema fiscal tem insuficiências, deve é ser aperfeiçoado.

sexta-feira, novembro 07, 2003

Obsessão II

Carla, quanto ao argumento "não me digas que isto é ofensivo para com o povo judeu, tão sofrido, etc. etc. Deixemos de usar essa desculpa! As atrocidades cometidas há 50 anos não podem servir de desculpa para a arrogância e a violência de Israel actual", já respondi aqui
que também não acho que esse tipo de argumentos façam sentido.
Quanto ao "ditador arrogante, que até hoje só lançou ameaças, mas (ainda) não teve qualquer acto de violência contra paí­ses terceiros" da Coreia do Norte, é esse tipo de rací­ocinio que não consigo entender. Esse "ditador arrogante" tem as condições para fazer armas nucleares, e não é sequer certo que não tenha já duas. O que aliás hoje em dia é relativamente fácil com o contrabando e mercado negro, de know-how e de produtos necessários ao desenvolvimento de armas nucleares, que existe por exemplo da Ex-União Soviética. Eu por acaso até acho muito preocupante que um senhor como esse tenha a possibilidade de lançar uma arma nuclear, seja num acto de desespero, acesso de mau humor, ou outra razão qualquer. Nem sequer lhe reconheço o bom senso, para me sentir seguro com o facto de a Coreia do Norte ser um "país nuclear". E acho muito importante que se tente travar a escalada de nuclearização que se vê neste como noutros países.
E continuo a não perceber que se coloque um país como os EUA a par com a Coreia do Norte.
O Sr. Sharon não tem cedido como devia para tornar a paz viável, e os EUA pecam por não colocar maior pressão para que essas cedências surjam. Mas isso não faz com que os terroristas do Hamas deixem de ser terroristas, nem faz do estado de Israel terrorista. Não acho saudável que o terrorismo seja relativizado, como muitos cometem o erro de fazer.

Luta Anti-Propinas I

Antes de tratar da questão das propinas, existem alguns pormenores que convém observar. Eu tenho sérias dúvidas sobre o real poder de representação dos dirigentes associativos em geral. Estamos a falar de pessoas que são eleitas em eleições que não conseguem a atenção dos alunos em geral, e são muitíssimo pouco participadas. Digo isto com o conhecimento de causa de quem saiu da universidade há pouco mais de um ano (isso não implica que tenha razão, claro). A realidade dos dirigentes associativos é algo que passa ao lado de 90-95% dos alunos, que não fazem ideia do que aqueles senhores andam a congeminar.
Diria até mais. Uma parte importante do movimento associativo, e uma parte importante, é composta por alunos para quem a universidade e o curso não são mais que um pormenor de menos importância, comparados com a vida social e actividades que envolve o associativismo.
A ironia é a luta contra as propinas ser dirigida por alguns dos que, indiscutivelmente, as devem pagar. É injusto que paguem tão pouco, visto serem pessoas para quem a universidade é muito mais uma casa e local de sociabilização do que um instrumento de formação. Uma coisa não exclui a outra, mas não acho defensável que o estado deva subsidiar os estudos a pessoas que estão 7, 8, 9 anos para concluir um curso de 4. Isto no caso em que os acabam.

Mas então de onde vêm aquelas multidões que ocupam salas do senado, que trancam universidades a chave, fazem marchas, etc? Tenho também dúvidas que muitos dos que participam nesses protestos saibam exactamente a razão de ali estarem. Nalguns casos estão ali porque a malta foi, o amigo chateou para aparecer, para ver o que se passa. E ainda noutros casos, são aqueles alunos que se sentem revoltados com o ensino ou o país em geral, e os protestos são para eles uma forma de exteriorizar essa insatisfação, que nem é necessariamente contra as propinas.

Tudo isto não retira como é óbvio a legitimidade ou relevância aos protestos. São uma realidade que não se pode negar e á qual não se deve fechar os olhos. E existirão de facto muitos e muitos alunos que são contra a existência de propinas no ensino superior. Têm todo o direito que manisfestar essas oposição.
O ponto que quero fazer é que existem muitos e muitos alunos que olham para os seus dirigentes associativos, para as formas de protesto, e as lutas contra as propinas em geral, com uma absoluta indiferença. Em muitos casos com desacordo mesmo. Este é um pequeno pormenor que não deve ser esquecido. Tenho todas dúvidas que a existência de propinas seja a preocupação mais forte entre a realidade dos alunos do ensino superior.

quarta-feira, novembro 05, 2003

Manif anti-propinas

Estas manifestações dos estudantes têm muito que se lhe diga. Logo que possa (isto é, que tenha tempo) digo o que se penso.

terça-feira, novembro 04, 2003

As tias de Cascais e os casacos de peles

Dizia ontem a Cinha Jardim no jornal da noite da SIC que gostava muito dos animais e tinha pena que os matassem, mas por outro lado usar um casaco de peles é daquelas coisas chiquérrimas. Ainda estive na dúvida se valia a pena comentar isto, mas enfim, aqui vai.
Que gostamos muito de animais e todos temos muita pena dos males que lhes fazem, isso todos nós concordamos, como todos gostamos da natureza, e do campo, e do fim da pobreza e da paz no mundo. É bonito e fica bem. Com isso até eu concordo. Mas fará sentido alguém que acha importante defender os elefantes andar a comprar peças em marfim para ter em casa, porque é chique?
As opções e preferências que assumimos como consumidores são a maior arma que temos para defender aquilo em que acreditamos. Isto aplica-se a defesa dos direitos dos animais, como ao combate a poluição, e outros. Quem acredita no que diz deve usa-las sempre, e são elas que definem o que estamos na prática a defender.

segunda-feira, novembro 03, 2003

Obsessão

Segundo uma sondagem encomendada pela Comissão Europeia "Cerca de 60 por cento dos europeus classificam Israel como o país que mais ameaça a paz mundial"
"Para os europeus, o país mais perigoso depois de Israel é o Irão, seguido pela Coreia do Norte, pelos Estados Unidos da América (ambos com 53 por cento das respostas) e pelo Iraque (52 por cento)."
Ao contrário do que Carla diz, os europeus considerarem Israel uma maior ameaça á paz mundial do que um país como a Coreia do Norte, que por sua vez é posta lado a lado com os EUA, só pode ser explicável pela obsessão anti-americana que tomou conta do pensamento europeu. Comparar a Coreia do Norte com democracias era algo até agora património do iluminado líder parlamentar do PCP. Pelos vistos deixou de ser.
Por outro lado, a reacção exacerbada de diversas organizações judaicas, a evocar racismo, demonstra traumas antigos por digerir mas sem razão de ser. Os traumas, esses são mais que compreensíveis. E é por serem tão sérios que não devem ser evocados a torto e a direito como vem sendo hábito.

Monteirisses

O CDS encontra-se a direita do PSD, mas nem sempre teve a capacidade de ocupar esse espaço devidamente. Umas vezes por falha própria, outras pelo poder de atracção do PSD, que é daqueles partidos que consegue a maravilha de ter de tudo dentro de si. Estando no governo, e com a reviravolta sobre a Europa, torna-se ainda mais complicado para o CDS desempenhar o papel que lhe cabe. E quem acha que existe um espaço por ocupar na direita, não pode deixar de acompanhar com alguma curiosidade e expectativa a emergência da Nova Democracia. Da mesma forma que acompanhou a eventualidade do Partido Liberal vir a ser formado pelo Santana Lopes. Falo por mim, pelo menos.
Sente-se a falta de um partido conservador, mas liberal na economia. E que o liberalismo na economia seja a principal tónica.
A primeira desilusão veio com a ideia vaga que Manuel Monteiro agora defende, que a Nova Democracia não é enquadrável nas definições tradicionais, e será uma espécie de partido acima dos partidos. O que a distingue são as pessoas em si.
Trazer novas pessoas para a política é positivo. Se o conseguir já é uma qualidade. E se trouxer um novo estilo e postura ainda melhor. Mas a ideia de superior legitimidade e integridade, sempre em contraponto com aquele conceito geral do sistema, dos interesses instalados, da decadência da democracia... não me parece apelativo nem saudável. Esta ideia de superioridade moral, se for o argumento essencial, é até limitativa de um debate interessante. É empobrecedor. Aliás, foi nesta onda a frase brilhante de que a Nova Democracia não teria pedófilos, e ainda bem. Quando o argumento é nós somos sérios e os outros não, em vez de nós defendemos isto e os eles aquilo, a política e a discussão de ideias perdem.
O importante não é um partido vir dizer que é de direita ou de esquerda, mas pelo menos que torne claro qual a sua linha doutrinária. Isso a Nova Democracia parece ainda não ter feito, e é uma pena que pareça fugir a fazê-lo.
Ainda assim, na entrevista de hoje ao Público, Manuel Monteiro aponta uma ideia interessante, a defesa de uma taxa única de IRS. Fica como tema para outro dia.

domingo, novembro 02, 2003

Somos uns campeões na estrada

É daquelas coisas com que conseguimos impressionar qualquer estrangeiro que por aqui passe. De tanto se falar em número de acidentes, feridos e mortos, as tantas perde-se a noção do fenómeno.
Quem não teve um conhecido que faleceu em acidente de viação? Quantas vezes se consegue ir a lisboa e voltar sem nos cruzarmos com algum acidente? Não é difícil lembrar de dias em que nos cruzamos com 2, 3, 4. Mesmo em auto-estrada, supostamente a via com menor propensão a provocar acidentes, estão longe de ser coisa rara.
Gostava de acreditar que o problema está nas estradas, ou nos carros, ou nos limites legais, ou na repressão insuficiente. Se assim fosse o problema até se resolvia. Mas o essencial está na mentalidade, na forma de conduzir, na nossa "cultura automobilística”. É algo que não se muda facilmente. Até acho que a capacidade que o estado tem de a influenciar é limitada. Isto porque, o condutor realmente irresponsável e perigoso na estrada, não será a pessoa que tipicamente se comove com as várias campanhas de sensibilização a que assistimos.
Enfim, se calhar sou eu que sou um céptico. De qualquer modo, se o problema é este, é nesse sentido que se tem de responder. Agravar as penalizações sem limite talvez não seja a resposta certa. Com este impulso de repressão indiscriminada chegamos a situações que fazem pouco sentido, como alguém poder perder a carta por falar ao telemóvel pelo auricular. E como verificamos todos os dias na estrada, não tem mudado grande coisa.

quarta-feira, outubro 29, 2003

Notícias que deviam ser notícias II

O Companheiro é uma associação de fraternidade cristã, que proporciona além de alojamento e refeições, formação profissional. Estes serviços são proporcionados, essencialmente, a grupos de pessoas cuja entrada no mercado de trabalho é complicada. Ex-toxicodependentes, ex-reclusos, reclusos em liberdade condicional, “sem abrigos”, desempregados de longa duração, etc. É por exemplo o responsável pela revista CAIS, provavelmente a sua actividades mais visível, mas longe de ser a única.
O Grupo Pró Mundo, é um grupo de 7 Empresas de Inserção, cuja finalidade é dar oportunidades profissionais a este mesmo tipo de pessoas, e usa, entre outros, os formandos que vêm do Companheiro. São empresas que competem no mercado em pé de igualdade com todas as outras, com a diferença de empregarem esta população, e a sua remuneração ser comparticipada pelo IEFP. A ideia é inserir através do trabalho, dar à pessoa a oportunidade de desenvolver uma actividade e começar a ter algo que se assemelhe com uma vida normal, e tentando que este processo de inserção tenha a racionalidade económica possível. São entidades separadas, mas na prática funcionam como uma só.

Convém avisar o óbvio. São instituições com muito pouca eficiência económica, com um funcionamento de tipo público, que nem sempre dá valor ao mérito, representam um custo para o estado, e mesmo as pessoas que por elas passam muitas vezes não lhes dão o devido valor, porque alguns em 3 ou 4 dias a estacionar carros ganham o que ali lhes pagam ao fim de um mês. E são de facto poucas as pessoas que ali conseguem ganhar a autonomia e capacidade de mais tarde prosseguirem a sua vida autonomamente, integrados na sociedade.

Tudo isto é verdade. Mas também é verdade que muitos conseguiram nestas instituições uma oportunidade para voltar a trabalhar depois de uma fase má na vida, e sair da sua situação de total exclusão, em que nem a sociedade nem o mercado de trabalho os aceitaria de volta. Faze-los sentir que ali são úteis e têm um papel a desempenhar, em alguns casos pela primeira vez na vida. Ou proporcionar coisas simples, banais mesmo, como ter um tecto e uma cama para dormir, tomar uma refeição normal, ter alguém que saiba que existem. Estou-me a lembrar de um senhor que, depois de ser internado várias vezes no hospital, só depois de ter falecido, se soube que tinha 7 filhos, porque não tardaram a aparecer para pedir o que lhe era devido. É uma história entre mil, de verdadeira e total exclusão, das que me habituei a conhecer diariamente, e que não acontecem só nos filmes e nos livros.

Como já disse, muitas das pessoas que ali passam nunca estarão preparadas para viver normalmente em sociedade. É um facto. Há casos em que duvido até que isso seja possível conseguir. Nem as empresas de inserção têm um funcionamento perfeito, pelo contrário. Mas muitos dos que ali trabalham (e entre eles alguns destes “irrecuperáveis”) dão graças a deus por terem aquela oportunidade, dão valor ao facto de poderem trabalhar, de terem onde dormir, alguém com quem falar. Ao verem o que está a acontecer têm medo... um medo que os acompanha desde que procuraram mudar a sua vida, e que vêm agora aproximar-se. Eles sabem que o mundo cá fora não os quer. No dia seguinte vai começar o regresso ao passado. Nuns casos a droga, noutros o roubo, noutros simplesmente a miséria, a rua, a solidão.

O mínimo que uma sociedade pode fazer é dar-lhes esta oportunidade. Por eles e por si própria. E revoltar-se. Revoltar-se quando querem acabar com o que representava essa oportunidade para mais de 100 pessoas.

Notícias que deviam ser notícias I

Está neste momento a acontecer algo que, pelos critérios das redacções televisivas, não será mais que uma nota de rodapé quando comparado ao drama nacional da velhota da aldeia que perdeu o marido numa rixa de tasca. É uma pena que assim seja. Está neste momento a decorrer uma conferência de imprensa em que a direcção do Companheiro se demite, o que significa na prática que este vai deixar de existir. E, por arrasto, vai deixar de existir o Pró Mundo, um grupo de empresas de inserção.
Agora que se está a perguntar de que raio estou eu a falar, passo a explicar.

terça-feira, outubro 28, 2003

Razões para ser monárquico III

Refere o Saudacoes, com razão, que já antes da Implantação da Républica havia o feriado do 5 de Outubro. Como se percebe pelo contexto, esse eu festejo. O 5 de Outubro de que falava, o que é oficialmente festejado, pretende comemorar a revolução Republicana.

segunda-feira, outubro 27, 2003

Razões para ser monárquico II

A razão apresentada pelo Complot para não ser monárquico, e que suscitou o meu post anterior, parece-me uma boa razão, mas no sentido inverso.
A mediatização em geral, e da vida privada dos membros da família real em particular, põe em causa a imagem de respeito que estes têm de sustentar perante o país. Essa imagem é o mais forte sustentáculo de uma monarquia. É portanto uma ameaça séria, e que pode, por si só, colocar em causa a própria instituição.
Curiosamente, ao olharmos para a realidade das famílias reais pela Europa, mesmo as mais castigadas pelos media, parecem continuar a merecer a confiança dos súbditos.
Dá que pensar.

Razões para ser monárquico I

Os regimes têm em geral um nível de poder mais executivo, e outro mais simbólico. O primeiro é o que mete a “mão na massa”, enfrenta e resolve os problemas em concreto que a sociedade enfrenta. O segundo é como uma consciência crítica que pretende representar o sentir do país e das suas gentes. Os EUA, com as suas particularidades, são uma excepção que vem confirmar a regra.
Passando a frente a discussão se deve ou não haver, além do executivo, um poder mais simbólico, e partindo do principio que deve, quem personifica melhor esse papel? Um presidente ou um Rei?
O Presidente tem uma vantagem essencial, que é a de a sua legitimidade vir directamente das pessoas, através do seu voto. Mas essa é também uma fraqueza. Para ir a eleições é preciso ter a confiança e o apoio de um partido, que também só o apoia se tiver razões para o fazer. Isto não implica que o Presidente esteja dependente do partido, porque ele pode ao longo do mandato acabar por ganhar legitimidade própria como Mário Soares conseguiu. Mas implica, necessariamente, que a escolha de um presidente se faz de entre várias opções e caminhos diferentes, e que uma vez escolhido os portugueses que nele não votaram dificilmente o vão sentir como seu representante.
Talvez Sampaio não seja o exemplo ideal, mas imaginemos que Cavaco Silva tinha sido eleito (e não esteve assim tão longe disso). Um pessoa com tantos anti-corpos poderia ganhar o sentir do país, como o mais alto representante é suposto conseguir?
O problema não é da pessoa, o problema está na própria lógica da eleição, que leva a que cada candidato seja uma parte do país, parte essa que se confronta com as restantes em eleições. É isso mesmo que é a democracia. É desejável, é saudável, é fundamental. Não está em causa. E é isso que fazemos quando votamos nas legislativas e escolhemos os deputados e primeiro-ministro.
O que é necessário para alguém chegar a Presidente, e o facto de numas presidenciais, no fundo, para além da pessoa em si, se referendar os governos, e qual o caminho a seguir pelo país. Tudo isto implica uma lógica que depois é contraditória com a própria natureza do cargo.
Digamos que a maior vantagem de um Presidente em relação ao Rei, é igualmente a sua grande e fundamental fraqueza. Um bom Rei representa o seu país de uma forma que dificilmente um Presidente eleito conseguiria.
Claro que, da mesma forma, nunca um Rei poderia ser governo. Mesmo depois de se apresentar a eleições para o parlamento e as ganhar. as eleições, a campanha e a própria natureza das funções de governo, fariam com que deixasse de ser verdadeiramente Rei. Ainda que assim se intitulasse, para nós seria apenas primeiro-ministro. Quanto ao papel que lhe cabe, dificilmente o voltaria a conseguir desempenhar.
Aqui normalmente entra o argumento do Dom Duarte Pio, não me parece que seja relevante. Não é essa a questão. O que estou a dizer é que a Monarquia me parece um regime mais adequado que a Republica. Daí a dizer que gostaria de instaurar uma Monarquia em Portugal vai um passo largo, muito largo, até porque uma Monarquia por natureza só é eficaz quando sentida pela pessoas.
O que me deixa poucas dúvidas é não termos motivo para festejar o 5 de Outubro.

domingo, outubro 26, 2003

Cada coisa a seu tempo

Pegou a moda de criticar o Ministério Público. Aqui e ali vão chovendo os ataques, como agora a que Pires de Lima veio fazer no expresso, com o seu estilo muito pessoal. A única atitude responsável é aquela que JPP defende: "nunca, jamais,em tempo algum, antes do fim do processo Casa Pia, por razões decorrentes do modo como deve funcionar uma democracia e um estado de direito", se poderá fazer qualquer alteração ao sistema.

terça-feira, outubro 21, 2003

Correcção

De uma leitora do Ilha Perdida:

"Bragança não é vila há pelo menos 5 séculos, é cidade desde
1464 (segundo Foral concedido por D.Afonso V), fará portanto no proximo ano 540
anos, o que faz dela uma das mais antigas do país."

Como tive oportunidade de explicar, chamar Bragança de vila foi uma incorrecção não intencional. Não pretendia ter sentido prejurativo, apenas interpretar a perspectiva do artigo, e porque não fazia sentido o empolamento que alguns que deram.

Políticos ou pessoas

A propósito do meu post anterior, diz a Carla que “qualquer facto pode ser encarado como um facto político. Não concordo quando dizem que uma acusação de pedofilia não coloca em causa um político.”
Existe uma dimensão política e uma dimensão pessoal das coisas, e o caso do Paulo Pedroso é exemplo ideal da distinção entre elas. A fronteira não é rígida nem necessariamente clara. Mas que existe, existe.
Um político é sempre e acima de tudo uma pessoa. Ao votar num político vota-se também na pessoa, na imagem e impressão pessoal que ele consegue fazer passar. A seriedade, por exemplo, é uma ideia essencial a passar. A simpatia do Guterres, a austeridade do Cavaco, a bonomia do Mário Soares, (…), foram factores não menos importantes para terem conseguido a confiança dos portugueses.
Daqui a concluir que a vida privada de um político é necessariamente um facto político vai uma enorme distância. Se o Tal & Qual fizer uma primeira página a dizer que o Cavaco tinha por hábito bater na mulher e filhos, tenho as minhas dúvidas que isso influencie a forma como as pessoas avaliam as suas qualidades e defeitos como primeiro-ministro.
Viesse a mesma manchete levantar um caso grave de corrupção, um Watergate português, e aí sim iria pôr em causa o homem como político.
Num caso como no outro, a possibilidade de o Cavaco vir a ganhar umas presidenciais estaria comprometida, mas por motivos bem distintos. Num porque se mostrou um político sem integridade, e noutro porque perderia a credibilidade como pessoa. No primeiro caso faria sentido o PSD meter-se ao barulho. No segundo nem por isso. O problema do PS é achar que faz sentido em qualquer dos casos.
Acho que a Carla não colocou bem a questão. Discordo da primeira frase, e concordo com a segunda. Uma acusação de pedofilia põe em causa um político, mas no sentido em que destrói de tal forma a dimensão pessoal do político, e ela ganha uma relevância tal (no mau sentido), que o impede de voltar a ser sequer ouvido como político.

segunda-feira, outubro 20, 2003

Novos Ventos

Já aqui falei do PS vs o caso da Casa Pia. É inconcebível a colagem que o PS, pela mão de Ferro Rodrigues, fez à situação de um arguido. Ainda para mais num caso que tem a ver apenas com o foro intimo da pessoa, e que portanto nada contem de político.
Depois deste fim de semana, com as escutas telefónicas que foram divulgadas sem ser desmentidas por ninguém, fica ainda demonstrado com o PS procurou influenciar e condicionar o funcionamento da justifica. O que é gravissímo.
Se parecia claro, fica ainda mais claro que esta direcção não irá ficar muito tempo. Se Ferro Rodrigues não sair pelo seu pé, vai ser levado a sair. Palpita-me que não vai sair por ele, até porque para isso não teria tido melhor oportunidade que este fim de semana. A escolha parece que é entrincheirar-se na sua posição contra tudo e todos, sejam as cabalas, as conspirações, ou o populismo. Quem perde é o PS, mas ele também vai perder muito.
A minha curiosidade vai para quem será o sucessor, porque não acredito que possa ser alguém envolvido nesta direcção. Um amigo meu mandou o nome do MMCarrilho, que talvez até estivesse interessado, não fosse a falta de interesse do partido.
Esperamos o senhor que se segue.

terça-feira, outubro 14, 2003

Bragança e a TIME II

A minha opinião sobre a reportagem é a que foi exposta. Segundo o Público última hora o governo não a viu da mesma forma, e vai cancelar a publicidade ao EURO 2004 na TIME. Mesmo aceitando a sua interpretação, acho uma medida muito discutível.

Bragança e a TIME

Foi com um sorriso que vi as notícias sobre a reportagem na TIME sobre Bragança e a prostituição. O provincianismo que transparecia na reacção do jornalista, que parecia evocar a indignação nacional contra uma notícia desproporcionada e difamatória que ponha em causa o bom nome do país perante o estrangeiro.
A reportagem, essa é uma entre muitas na linha do que a TIME e por exemplo a Newsweek costumam fazer. A estratégia costuma ser abordar um tema relevante seguindo um ou dois casos concretos, para daí extrair a visão ou reflexão que se pretende passar ao leitor, em vez de abordar o tema apenas teoricamente. Bragança não é apresentada como uma espécie de interposto da prostituição europeia, mas apenas e tão só como uma pequena vila escondida e perdida lá no meio de uns montes, e em que umas quantas brasileiras vieram pôr em alvoroço a vida pacata das suas gentes. Um exemplo que não vale propriamente por si.
A razão da sua escolha para a reportagem terá sido provavelmente pela (penso eu) inédita iniciativa do Movimento das Mães de Bragança. Não vejo qual o motivo de tanta exaltação.

segunda-feira, outubro 13, 2003

De novo Ana Gomes

Chega a meter pena, depois de ver a sua intervenção no Jornal da SIC deixo aqui um apelo: ALGUÉM DIGA A ESTA SENHORA PARA SE CALAR.

domingo, outubro 12, 2003

Ainda sobre o mesmo...

Se andam ou não nomes de ministros na baila, essa não é boa razão para andar a mandar nomes ao ar. E caso a Ana Gomes não saiba, a ideia de uma investigação é exactamente não se saber que ela está a ser levada a cabo.

quarta-feira, outubro 08, 2003

Paulo Pedroso II

Quem terá concebido esta estratégia brilhante que o PS resolveu seguir, em que o nosso maior partido na oposição se identifica e cola a situação de um seu militante acusado pela justiça de pedofilia. Se alguma dúvida havia ouvir Manuel Alegre a falar na revogação da prisão preventiva como um bem para a democracia, entre outros, foi esclarecedor.
Eu como já disse presumo a inocência. Mas vamos equacionar que a acusação se prova, como é? Para Manuel Alegre já sabemos que a conclusão é que a democracia deixou de funcionar.
A situação para o PS é muito simples, qualquer acusação que fosse provada contra Pedroso é porque a justiça não está a funcionar. E se a prisão preventiva não tivesse sido levantada não lhes passaria pela cabeça que se calhar havia alguma razão para ela ter sido implementada. Não. O problema era a doença que afecta a nossa democracia e justiça, a tal ponto que chegou ao cúmulo de acusar um dirigente do PS seja lá do que for.
Não tem a ver com a pessoa, fosse outro e acusado de outro crime e o problema era o mesmo. Um partido com a relevância do PS adoptar uma posição destas em relação a justiça e a um processo judicial em curso devia deixar-nos perplexos.

Joao Paulo II

E faço ainda minhas as palavras do Saudacoes. Joao Paulo II está lúcido e sabe o que faz, tem a força de espírito e a vontade de continuar a ser papa.
Tantas as vezes que se falou na eventualidade de resignar, e no entanto ele ali está e vai continuar enquanto viver.
É um exemplo.

Paulo Pedroso I

Faço minhas as palavras da jornalista da SIC: Paulo Pedroso aparece na assembleia como um herói, numa espécie de comício em que desmontou a cabala contra ele montada, e como afinal está inocente.
Eu por mim presumo a inocência. Mas atenção que o processo judicial está no seu ínicio. Foi revogada a prisão preventiva mas a acusação mantem-se.

domingo, outubro 05, 2003

PS vs Constâncio

Diz-se por ai que o PS anda irritado com Constâncio. Não é para menos, depois deste ter o descaramento de vir com a história de uma tal crise das finanças públicas que teria emergido em 2001. Alguém tinha ouvido falar em tal coisa?

Ainda o Referendo

Parece que afinal o primeiro ministro entende o referendo a Constituição Europeia como muito provável. O Presidente da República, teve de vir a correr para colocar as suas reticências, e não sei quantos "se"´s ao referendo. As vezes não consigo perceber qual o papel que Sampaio quer desempenhar. Admito que, como monarquico, não sou a pessoa ideal para perceber, mas a única questão aqui é saber se deve ou não haver referendo. Para mim é óbvio que sim. Se é dia X ou Y, junto ou separado das europeias, etc, etc, são outras discussões que embora importantes não devem ser usadas para iludir o essencial.
Faz todo o sentido que os portugueses sejam envolvidos neste debate e sejam chamados a pronunciar-se. Os "se"´s que vejo serem colocados parecem muito mais um receio de um possível resultado não conveniente ou sinal de incómodo perante um debate envolvente que alguns temem, e que só havendo um referendo irá existir.

domingo, setembro 28, 2003

Perplexidades

Não estive por estes lados para acompanhar o congresso do PP. Pelo que pude perceber não se passou nada de muito interessante. Faz-me muita confusão este incomodo do PP com o seu passado em geral, e europeu em particular. Continuo a fazer a mesma pergunta. Qual a posição sobre a Constituição Europeia? É curioso que a discussão sobre a coligação com o PSD nas europeias preceda estes pequenos pormenores.
E depois, o referendo sobre essa Constituição deve ou não haver? Ouvi ha bocado Marcelo Rebelo de Sousa na TVI a dar algumas razões para que não haja. Iria criar divisões nos partidos, o calendário esta complicado, e pode não ter os 50% de participação.
Devo ser eu que estou enganado, mas que raio de razões são estas? Será a Constituição Europeia um assunto com importância suficiente para que se consulte a opinião dos portugueses? Parece que sim. As divisões nos partidos são mais uma prova de como esta não é uma questão linear ou sobre a qual os partidos estejam já legitimados nas urnas para decidir. E o referendo é a forma de envolver os portugueses na discussão sobre algo a que estão alheios, mas não deviam por ser decisivo para saber que caminho irá seguir a construção europeia.
Agora pergunto eu ingenuamente, será que isto não é óbvio? Ou por acaso é aceitável um referendo cuja pertinência é evidente ser posto em causa por motivos de calendário e/ou dúvidas quanto a conveniência do seu resultado?

quinta-feira, setembro 25, 2003

As voltas que as coisas dão

Como as coisas mudam. Lembro perfeitamente quando ainda era puto de ver o Portas a criticar apaixonadamente a UE e o Euro, parecia acreditar no que dizia de uma maneira radical. Por muito que alguém discordasse dava vontade de parar um pouco e pensar se ele não teria razão, tal era a convicção do homem. Mesmo ainda sendo jornalista na altura, parecia mais enraivecido pelo assunto que o próprio Manuel Monteiro.
O discurso mudou de facto, mudou muito e de uma maneira que não se pode explicar apenas pelo facto de o Euro se ter tornado uma realidade que tem de ser aceite. E é pena que ainda por cima tenha sido num momento tão conveniente, quando se passou a achar no CDS que o entendimento com o PSD era a solução. Se calhar é este pormenor que torna difícil acreditar na autenticidade de certas mudanças de opinião.
Não sei se é autêntico, mas é ironia ver Paulo Portas a criticar o euro-cepticismo de JPP, e a sua recusa da Constituição Europeia que aí vem. E ele, será que a apoia? Seria a ironia das ironias ver Portas a defender o Sim.
Tenho sérias duvidas sobre o futuro da Nova Democracia, mas que existe um espaço para um novo partido a direita não tenho dúvida alguma

terça-feira, setembro 23, 2003

Dr´s mania II

As empresas devem estar estruturadas e funcionar de forma a aproveitar um dos seus recursos mais preciosos, as pessoas.
Não me parece é ser verdade o que o saudacoes sugere: que esta forma de ver as coisas continua a ser representativa da realidade empresarial e de como os que estão a sair das universidades vêm a sociedade. O que referi acima, mais o facto de sairem todos os anos licenciados aos montes, muitos deles em áreas sem saída no mercado de trabalho, e outros tantos sem que o curso lhes tenha ensinado grande coisa, explica que muito tenha mudado desde ha uns anos a esta parte.
Nas empresas mudou porque se percebeu que o curso não significa muito só por si. Interessa saber qual o curso, onde foi tirado, com que aproveitamento. E depois, ou talvez antes de tudo, interessa saber se a pessoa tem boa presença, se mostra inteligente, desenbaraçada e com "traquejo" para ser útil na vida real. Tem um curso é necessário, está é longe de ser suficiente.
Compreende-se que os dr´s já tenham percebido isto, senão antes, quando entram no mercado de trabalho. Ao entrar perdem-se as ilusões. Agora vinga quem é bom. Ter um curso já não é o que era.

segunda-feira, setembro 22, 2003

Dr´s mania I

O saudacoes aborda um tema com o qual me deparei ao longo da minha mais recente (e também primeira) experiência profissional mais séria.
Assistia a dialogos interessantes como:
"Bom dia, estou a falar com?"
"Daqui é a Drª XPTO, como está?"
Ali o tí­tulo "doutor" é usado religiosamente. É uma afirmação de superioridade, de que se pertence a uma classe diferente. Confesso que foi muito interessante de observar.
Tirando o pormenor de os licenciados não serem doutores, e de que alguns dos que assim se faziam questão de entitular nem a licenciatura terem concluí­do, talvez o mais significativo seja que o tí­tulo de doutor nem sempre correspondia a tarefas cuja complexidade ou know-how as distinguisse significativamente das que incumbiam aos "outros".
É significativo porque indica que o ser "doutor" não é apenas, nem sequer necessariamente, saber mais ou ter maior capacidade de entendimento da realidade. Até pode ser isso, e tem o seu aspecto de distinção de cargos, que é natural e faz sentido. Mas ha um elemento de distinção social. Não quero aqui comentar isto na óptica de ser justo ou não. Acho é que na óptica da empresa não faz sentido que o contributo que os "outros" têm a dar seja desvalorizado apenas porque não são doutores. E muito menos que um mau trabalho seja considerado apenas pela assinatura que traz. E disto também vi acontecer.
(continua)




sábado, setembro 20, 2003

Links

Mais uma pequena inovação, passo a ter os links para alguns blogs que vou seleccionando. Aviso desde já que a amostra pode estar um pouco politicamente enviesada, e são apenas os que costumo acompanhar mais regularmente, sem pretensões de espelhar a realidade da blogosfera no seu todo.
O Saudacoes é neste momento a excepção a este enviesamento político, com a desculpa de ser de uma pessoa amiga. Outras excepções virão, mesmo que sem esta desculpa.

quarta-feira, setembro 17, 2003

Hans Blix e as ADM

Segundo o publico ultima hora, Hans Blix entre outras coisas " explicou ainda que o regime de Saddam poderá ter apostado em fazer crer que tinha armas de destruição maciça, a fim de se apresentar como uma ameaça e assim evitar uma guerra. “É como se pusessem uma placa na porta a dizer ‘cuidado com o cão’, sem que, na realidade, tivessem um cão” ".
Mas qual é a lógica disto? Que o Iraque tivesse armas de destruição massiça e não abdicasse delas porque eram importantes para o regime ou pretendia vir a usa-las de alguma forma, mesmo que assim arriscasse a guerra e na prática ficasse sem nada já mostra pouca inteligência. Digo eu que tentaram ganhar tempo, esticaram a corda e ela partiu. O Iraque procurou sempre ganhar tempo através de estratagemas, de não permitir que verificassem se dizia a verdade mas sem o assumir.
O que é absolutamente certo em tudo isto é que sem o argumento das armas existirem não teria havido invasão, e pensar que o Iraque fez "finca pé" com algo que afinal já tinha destruído ha não sei quantos anos faz mesmo pouco sentido. Este senhor parece perder qualidades desde a altura em que escrevia os relatórios, e a argumentação dele e de muitos outros padece de um problema de plausibilidade.

terça-feira, setembro 16, 2003

A propósito do défice

Um artigo interessante da Manuela Ferreira Leite no Público - Caminho Responsável. Até gosto da senhora, so é pena que a austeridade que transmite esteja mais na sua imagem que depois na prática. Ninguem é perfeito, pelo menos vai passando a ideia.

quarta-feira, setembro 10, 2003

Costa Vicentina

Tou de malas feitas para um dos sítios mais belos de Portugal. Por enquanto. Espero que as muitas tentativas que têm vindo a ser feitas para o estragar tenham um travão inequívoco.
Não tenho nada contra o Algarve, mas o simples facto de um local atrair as pessoas pela sua beleza e qualidades não pode levar a que se destruam essas mesmas qualidades. Para quem cresceu em contacto com aquela zona doi ver o que se esta a passar. Ir la agora em vez de no meio de Agosto tem a vantagem de poder disfrutar e tirar muito mais prazer da zona.
Vai ser uma coisa rapida, só pa matar saudades. Sabado ou Domingo tou de volta

terça-feira, setembro 09, 2003

O défice II

Já expliquei porque na minha opinião faz economicamente sentido que exista um Pacto de Estabilidade como existe. A solução para os problemas esta muito mais em fazer reformas essenciais do que em ter mais dinheiro. Por vezes está nas duas coisas, mas nem sempre. O dinheiro também pode ser uma forma de adiar uma reforma inadiável. Esta mentalidade que temos de tapar problemas com dinheiro, em vez que ir ver de onde eles aparecem, esta de tal forma enraizada em nós que é díficil combater.
A questão para mim é esta. Não acredito que sem a consciência as pessoas de que não ha dinheiro nem alternativa, se consiga levar a que estas aceitem mudanças que necessariamente põem em causa interesses instalados e direitos/privilégios adquiridos. As coisas são assim mesmo. Temos agora uma oportunidade a não perder.
Ao contrário do que possa parecer, estes factores extra-economicos não são menos importantes, antes pelo contrário

O défice

Ha uma ideia estabelecida em Portugal sobre o limite ao défice imposto pela UE que chega a ser curiosa. O bom português ve este limite como uma imposição tirana que nos amordaça e impede de desenvolver. Muito politico adopta esta postura. Alguns certamente por convicção, outros nem tanto. Inclusivé, qualquer economista vem agora dizer que não faz sentido numa altura de recessão ser retirada ao estado a capacidade de a contrariar, estimulando a economia pela procura.
Eu também sou economista, e pelo que me lembro essa é apenas uma parte do argumento. A outra parte é que os estados nas fases altas do ciclo económico devem procurar ter super-avits que lhes permitam nas fases baixas desempenhar esse papel de estimulo. É sabido que não foi o que aconteceu em Portugal (também diga-se de passagem que é prática generalizada), e isso não é um pormenor, faz toda a diferença.
Por outro lado, se temos vindo a gastar sempre mais do que ganhamos, e que ainda assim entramos em crise, não da um pouco que pensar que a solução seja apenas mais do mesmo? Gastar mais e ainda mais?
E não é de bom senso que não se pode gastar indefinidamente mais do que se ganha?
Como economista acho saudável que exista este limite, e concordo em absoluto sobre a análise que o Abrupto faz de haverem paises na UE a quererem soltar-se das suas obrigações. Com a moeda única o justo paga pelo pecador. Parece haver muitos em Portugal que não percebem isto e se deliciam com o afrouxamento do Pacto de Estabilidade
(continua)

domingo, setembro 07, 2003

segunda-feira, setembro 01, 2003

O Tempo

O bem mais escasso de todos. Saber geri-lo e aproveita-lo bem é das maiores qualidades. Planos, projectos, objectivos, ideias, sonhos que construimos e nos acompanham ao longo da vida. E sempre este pequeno pormenor como limite. Não ha tempo para tudo, temos de escolher. Isto faço agora e isso trato depois. É inevitável que muito ficara por fazer e realizar. Demasiado.
O tempo não espera, e são tantas as vezes que ficamos a ve-lo passar sem tirar dele o devido proveito. As coisas pequenas da vida enriquecem-nos muito, mas é assustador fazer as contas ao tempo que passamos no trânsito, em filas de espera, a aturar aquele gajo que não se cala. E aquele emprego de que não gostamos? E a relação que não nos faz felizes?
Se tenho alguma obcessão com o assunto? Se calhar tenho. Acho que vou olhar sempre para trás com o sentimento de que podia ter feito tanta coisa a mais e de diferente, e sentir impotente em relação ao tanto que gostaria de vir a fazer. Estamos de tal forma limitados que é estupido não aproveitar o pouco tempo que temos. É isto que me irrita profundamente.

quinta-feira, agosto 28, 2003

Frases

Ha frases que me surpreendem pela simplicidade e riqueza do que conseguem dizer, e esta é uma delas. Decidir tem um preço.

In Abrupto, de PVG, em 26/08/03

"Quando se decide, abdica-se de continuar a pensar. Uma decisão é sempre a decisão de ignorar vários aspectos da realidade e a complexidade real de qualquer situação. Deste modo, ao decidir, erra-se – sempre. Não há, por definição, decisões acertadas. Quem quer à viva força acertar, acaba por não decidir nunca porque é impossível ter a certeza de que se está a decidir bem."

terça-feira, agosto 26, 2003

Não percebo

Confesso que fiquei chocado ao chegar a Benidorm. Ao passear na avenida da praia do levante, fiquei ainda mais espantado ao ver que a maior parte das pessoas que ali andam são famílias. Benidorm é o exemplo máximo de massificação do turismo. Prédios de 30 andares amontoados uns nos outros, pessoas pessoas e mais pessoas em todo o lado. É verdade que acabei por me ir habituando, mas qual é a lógica de uma família com miúdos se ir meter num sítio daqueles?
A água é muito quente, ta bem. Mas mesmo a praia em si é uma tristeza. Não ha ondas, rochas aos montes, e muito lixo... se aquele sítion alguma vez teve qualidade já a perdeu ha muito tempo. Resta o conforto de ter tido uma varanda para apreciar a beleza da avenida e a beira mar ao final da noite.
Prometo que não volto a falar de Benidorm tão cedo

Alguém quer ajudar?

Ando aqui as voltas mas ainda sem entender como posso colocar o e-mail de contacto para comentários. Entretanto aqui fica.
ilhaperdida@hotmail.com
Na volta pude confirmar que somos uns campeões ao volante. Foi passar a fronteira e ve-los a fazer sinais de luzes, outros que não descolavam da faixa da esquerda, e ainda outros que resolvem a situação passando pela direita. Temos a fama, mas também o proveito.
Estou de regresso de uma semana Benidorm e confesso que algumas dúvidas e inquietações me assaltaram.
Porque é que pago 3 contos de portagem pa fazer 300 km até ao algarve e nos restantes 800 pago 0 sem que por isso a estrada tenha menos qualidade? Porque é que a gasolina em Espanha é mais barata? Porque é que os carros em Espanha são mais baratos? Qual é a lógica que tudo o que tenha a ver com usufruir de um automóvel ser mais caro em Portugal?
Depois de algum tempo como observador da blogoesfera resolvi fazer a experiência de passar para este lado.
O tempo dirá o que este blog será ao certo ou se chegara a ser alguma coisa.