domingo, novembro 30, 2003

Anti semitismo

Sobre o texto do Bruno, ja la expliquei o que queria dizer neste meu post com a expressão de "trauma sem razão de ser". O trauma, na verdade tem toda a razão de ser, não pode é ser invocado dia após dia para legitimar toda e qualquer atitude por parte de Israel. Como se assistissemos a uma conspiração mundial para exterminar os judeus.
Como um estudo agora muito falado concluiu, é verdade que existe anti-semitismo em grupos muçulmanos, pró-palestinianos e afins. Não me venham é convencer que o europeu médio é anti-semita, e considera Israel a maior ameaça à paz mundial com base na raça dos israelitas.

Dito isto, a posição do Respublica espelha exactamente aquele que, para mim, é o problema dos europeus. Um completa e chocante inversão de valores, protagonizada em boa parte pela intelectualidade europeia, que condena com timidez e incómodo, e nunca antes de um discorrer de "mas", as vitimas israelitas de atentados terroristas ou os mortos no atentado às Twin Towers. Que é implacável a julgar Israel e cega a julgar Arafat.

Nos até temos em Portugal uma versão do mesmo programa. Apenas um pouco mais extremada (ou mais clara?). Perguntem ao Bloco de Esquerda se considera terroristas aqueles que em Espanha usam bombas para defender ideias.

sexta-feira, novembro 28, 2003

Estado e TV

A propósito de um post do Adeonato... já há uns tempos que a história da RTP me anda a fazer confusão. O governo começou com umas ideias muito bonitas e depois, quando viu o que tinha pela frente, achou melhor esquecer o assunto (é impressão minha ou esta a tornar-se padrão?).

Estou-me nas tintas (para não usar a expressão de outros...) para qual a razão da RTP dar prejuízo. Alias, essa é uma discussão que só pode vir depois de outra, que é saber o que justifica que a RTP 1 seja uma televisão pública. Sim, alguém me sabe dar uma boa razão, além de passar os tempos de antena dos partidos quando há eleições? Assim de repente não estou a lembrar de mais nada.

Se me disserem que a CP, ou o Metro de Lisboa, estão a dar prejuízo, aí sim esta discussão faz sentido. Não estou a ver os privados a gerir o Metro, a cobrar o valor dos passes sociais, e a pagar dos seus bolsos o alargamento da linha a novas estações com o critério de servir a população, em vez de análise investimento / retorno. É claro, exige-se das suas administrações que sejam capazes e competentes. Mas, se ainda assim subsistirem prejuízos, temos o serviço que nos é prestado e que dificilmente poderia ser através dos mecanismos normais de mercado. É esse pormenor que torna legítimo sustentar os défices dessas empresas com dinheiros públicos.

Existe uma diferença fundamental entre o produto oferecido pela RTP 1 e o oferecido pela SIC? Ou pela TVI? Sublinho o pormenor do 1, porque o caso da RTP 2 é completamente diferente. Estamos a falar da RTP 1, e ainda ninguém me soube explicar o valor acrescentado da sua existência para o nosso bem-estar.

terça-feira, novembro 25, 2003

As contas do défice

Um bom texto do Bruno sobre o défice público, não podia estar mais de acordo.
O sucesso deste governo no combate ao défice não é mais que uma miragem. A oposição acha o mesmo, e naturalmente propõe que esqueçamos o problema. O governo acusa que é irresponsabilidade. E, para reforçar a ideia, o primeiro-ministro vem dizer que compreende aqueles que ao contrário de nos se estão nas tintas para as contas públicas. Se virmos bem, é natural que compreenda. As regras na europa são para quem as recebe, não se aplicam a quem as concebe.

Só é pena que os países a adoptar este comportamento sejam os mesmos que arrogam para si próprios a legimitidade de representar os anseios e as aspirações da integração europeia. Sim, é uma integração europeia muito diferente daquela a que nos temos habituado, sem aquelas nuances de generosidade, como O Comprometido Espectador refere. Mas parece que, como diria uma nossa conhecida, isso agora não interessa nada.

domingo, novembro 23, 2003

Surpreendido...

...com as novidades da Nova Democracia.
O congresso não trouxe nenhuma frase especialmente infeliz, e ainda resultou numa ou outra ideia interessante. Face as expectativas, pelo menos as minhas, não esteve nada mau.
A ideia que Manuel Monteiro veio agora defender, de instaurar um sistema presidencialista puro em Portugal, do tipo do existente nos EUA, é um exemplo ainda melhor. Parece-me uma boa ideia, mais não seja como mal menor a dificuldade de termos um sistema como o Inglês (que implicaria reinstaurar a Monarquia). O nosso Presidente da Républica é uma coisa que não se percebe muito bem, mas sobre isso já escrevi.
O que acho de aplaudir é que surjam novos temas no debate político, e que este não se limite apenas a gerir os problemas do dia-a-dia. Lançar ideias que nos façam pensar, porque nem tudo é ter de ser como é. Se a Nova Democracia conseguir esse prodígio, é razão suficiente para fazer sentir existir.

Previsibilidade

Vale ainda a pena ler este post da Carla. É interessante verificar como todos somos únicos e irrepetíveis, no bom e/ou no mau sentido. E, ao mesmo tempo, enquadráveis num ou noutro estereótipo social, que permite aqueles mais atentos e perspicazes prever com alguma fiabilidade o nosso comportamento em determinada situação.
A influência que a sociedade tem sobre nós é incontornável, seja por a aceitarmos ou fazermos questão de ser contra ela. Claro que ninguém gosta de sentir que é "rotulável", entre outras coisas por sentirmos e sabermos que o nosso "rótulo" dá uma imagem necessariamente limitada do que somos, do que pensamos. Ha muito mais a conhecer e a perceber. E, quem verdadeiramente nos conhece, põe-nos o "rótulo", mas sabe isso.
Uma coisa não impede a outra, e concordo com o Nelson:
"Alguém prever os nossos comportamentos não é mau. Por um lado é sinal de que a pessoa nos conhece bem, por outro é sinal que temos uma personalidade, que sabemos quem somos, que não andamos ao sabor da maré, ora com um comportamento, ora com outro.
Sermos originais é sermos únicos."

Estudantes e Propinas

aqui falei do assunto, a defender essencialmente o mesmo. Mas vale a pena ler o artigo de JPP no Público de 5a feira passada.

quinta-feira, novembro 20, 2003

Iraque e a Europa

Eles (americanos) foram para lá, agora desengomem-se. Aquilo das Torres subiu-lhes a cabeça, não vale a pena exagerar as coisas. E não ha caso para preocupações, o problema é entre eles.
Porque hão-de ir os nossos GNR´s arriscar a vida para o Iraque? Temos alguma coisa a ver com o problema?
Rebentaram mais umas bombas na Turquia? Temos pena. A culpa é dos EUA, se pensarmos bem os atentados até são em legítima defesa. E vistas as coisas, irmos para o Iraque até nos tornaria mais apetecível como alvo. Não, bora mas é ficar aqui de braçinhos cruzados. Se os americanos se sairem bem, sorte a deles. Caso contrário, é bem feita para não serem arrogantes. E não gostamos deles de qualquer das maneiras.

Eis o pensamento típico dos portugueses em particular, e dos europeus em geral.

Como dizia ontem Vasco Rato na SIC Noticias, o problema de Tony Blair não é que os EUA tenham ido para o Iraque, mas que venham a sair de la á pressa, com tudo o que isso implicaria. A ambiguidade e o cruzar de braços da Europa em relação ao Iraque, e a luta contra o terrorismo, é inquietante. Esta preocupação deveria ser não apenas do RU, mas da Europa, e de todo o mundo democrático.

quarta-feira, novembro 19, 2003

Nem tudo o que parece é

É curioso observar as manifestações anti-Bush em Londres, e ao mesmo tempo as conclusões de uma sondagem em que a maioria dos ingleses dá as boas vindas ao presidente americano.
Como no caso das lutas anti-propinas em Portugal, as manifestações são legítimas, mas o que tem força de mobilização não representa necessariamente a maioria. E esse é um pormenor que não se deve descurar, mesmo reconhecendo a capacidade única que o sr. Bush tem de semear inimigos.

domingo, novembro 16, 2003

Iraque

Faz já algum tempo que ando com a sensação descrita por JPP. É preocupante que assim seja, e a aproximação de eleições presidenciais nos EUA pode não augurar nada de bom.

Estadio do Dragão

Independentemente de filiações clubísticas, e depois do critério usado por Pinto da Costa para fazer os convites, é triste que ainda assim tantos políticos tenham feito questão de marcar presença. Como políticos, e não como cidadãos. Que um dirigente de um clube goste de fazer política é uma coisa. A política e os políticos deixarem-se fazer estes papéis é outra.

segunda-feira, novembro 10, 2003

Luta Anti-Propinas II

Faz parte do papel do Estado prover serviços como a justiça, a saúde, a educação, a segurança, etc. E deveria faze-lo de forma universal e gratuita. No entanto, tendo em conta a premente faltos de recursos, e as muitas áreas a que a intervenção do estado é chamada, alguns (e eu sou um deles) defendem que certos serviços devem ser tendencialmente pagos por quem tem a possibilidade de os pagar. Isto é, devem deixar de ser necessariamente gratuitos.

Contra esta ideia existe um argumento menos bom, que é o de que o nosso sistema fiscal não consegue com justiça estabelecer quem tem ou não possibilidades de pagar. Não são raros os casos de pessoas abastadas e sem dificuldades, e que conseguem apoios sociais para os seus filhos, sem se saber bem como. Iamos ter alguns ricos a receber apoio social, com outros menos ricos a pagar.
E existe um bom argumento, segundo o qual os impostos já têm uma natureza proporcional, por serem em percentagem. Além disso, são ainda progressivos, aumentando com o rendimento a proporção que é paga. Logo, se a justiça é feita na tributação, pode ser considerado injusto acentuar ainda mais essa “progressividade” quando do acesso a serviços públicos.

Apesar disso, é incontornável que cada tostão gasto a mais num lado implica menos gasto noutro. Nesse sentido, é perfeitamente razoável que quem tem a possibilidade de comparticipar os seus custos em saúde, educação ou justiça, o faça. Mais que razoável, faz todo o sentido, e por uma razão de justiça social. Essa compartição pode permitir uma prestação de serviço com mais qualidade, e mais importante, que quem não pode seja ainda mais apoiado. E isso deve ser explicado.
Era importante, para a mensagem ser passada, que o dinheiro das propinas fosse directamente para as universidades onde são pagas. E ainda para financiar programas que verdadeiramente apoiassem os alunos com dificuldades, e para os quais é de facto incomportável pagar uma propina, comprar um livro, ou arranjar alojamento.
É uma questão de justiça social. Tão simples quanto isto. Por todas as razões, ser contra as propinas pode ser tudo menos defender os interesses dos mais carenciados.

Quanto ao nosso sistema fiscal deficiente, embora importante, não é um argumento muito forte. Mais não seja porque é um argumento que pode ser usado contra qualquer esquema de apoio social. Se o sistema fiscal tem insuficiências, deve é ser aperfeiçoado.

sexta-feira, novembro 07, 2003

Obsessão II

Carla, quanto ao argumento "não me digas que isto é ofensivo para com o povo judeu, tão sofrido, etc. etc. Deixemos de usar essa desculpa! As atrocidades cometidas há 50 anos não podem servir de desculpa para a arrogância e a violência de Israel actual", já respondi aqui
que também não acho que esse tipo de argumentos façam sentido.
Quanto ao "ditador arrogante, que até hoje só lançou ameaças, mas (ainda) não teve qualquer acto de violência contra paí­ses terceiros" da Coreia do Norte, é esse tipo de rací­ocinio que não consigo entender. Esse "ditador arrogante" tem as condições para fazer armas nucleares, e não é sequer certo que não tenha já duas. O que aliás hoje em dia é relativamente fácil com o contrabando e mercado negro, de know-how e de produtos necessários ao desenvolvimento de armas nucleares, que existe por exemplo da Ex-União Soviética. Eu por acaso até acho muito preocupante que um senhor como esse tenha a possibilidade de lançar uma arma nuclear, seja num acto de desespero, acesso de mau humor, ou outra razão qualquer. Nem sequer lhe reconheço o bom senso, para me sentir seguro com o facto de a Coreia do Norte ser um "país nuclear". E acho muito importante que se tente travar a escalada de nuclearização que se vê neste como noutros países.
E continuo a não perceber que se coloque um país como os EUA a par com a Coreia do Norte.
O Sr. Sharon não tem cedido como devia para tornar a paz viável, e os EUA pecam por não colocar maior pressão para que essas cedências surjam. Mas isso não faz com que os terroristas do Hamas deixem de ser terroristas, nem faz do estado de Israel terrorista. Não acho saudável que o terrorismo seja relativizado, como muitos cometem o erro de fazer.

Luta Anti-Propinas I

Antes de tratar da questão das propinas, existem alguns pormenores que convém observar. Eu tenho sérias dúvidas sobre o real poder de representação dos dirigentes associativos em geral. Estamos a falar de pessoas que são eleitas em eleições que não conseguem a atenção dos alunos em geral, e são muitíssimo pouco participadas. Digo isto com o conhecimento de causa de quem saiu da universidade há pouco mais de um ano (isso não implica que tenha razão, claro). A realidade dos dirigentes associativos é algo que passa ao lado de 90-95% dos alunos, que não fazem ideia do que aqueles senhores andam a congeminar.
Diria até mais. Uma parte importante do movimento associativo, e uma parte importante, é composta por alunos para quem a universidade e o curso não são mais que um pormenor de menos importância, comparados com a vida social e actividades que envolve o associativismo.
A ironia é a luta contra as propinas ser dirigida por alguns dos que, indiscutivelmente, as devem pagar. É injusto que paguem tão pouco, visto serem pessoas para quem a universidade é muito mais uma casa e local de sociabilização do que um instrumento de formação. Uma coisa não exclui a outra, mas não acho defensável que o estado deva subsidiar os estudos a pessoas que estão 7, 8, 9 anos para concluir um curso de 4. Isto no caso em que os acabam.

Mas então de onde vêm aquelas multidões que ocupam salas do senado, que trancam universidades a chave, fazem marchas, etc? Tenho também dúvidas que muitos dos que participam nesses protestos saibam exactamente a razão de ali estarem. Nalguns casos estão ali porque a malta foi, o amigo chateou para aparecer, para ver o que se passa. E ainda noutros casos, são aqueles alunos que se sentem revoltados com o ensino ou o país em geral, e os protestos são para eles uma forma de exteriorizar essa insatisfação, que nem é necessariamente contra as propinas.

Tudo isto não retira como é óbvio a legitimidade ou relevância aos protestos. São uma realidade que não se pode negar e á qual não se deve fechar os olhos. E existirão de facto muitos e muitos alunos que são contra a existência de propinas no ensino superior. Têm todo o direito que manisfestar essas oposição.
O ponto que quero fazer é que existem muitos e muitos alunos que olham para os seus dirigentes associativos, para as formas de protesto, e as lutas contra as propinas em geral, com uma absoluta indiferença. Em muitos casos com desacordo mesmo. Este é um pequeno pormenor que não deve ser esquecido. Tenho todas dúvidas que a existência de propinas seja a preocupação mais forte entre a realidade dos alunos do ensino superior.

quarta-feira, novembro 05, 2003

Manif anti-propinas

Estas manifestações dos estudantes têm muito que se lhe diga. Logo que possa (isto é, que tenha tempo) digo o que se penso.

terça-feira, novembro 04, 2003

As tias de Cascais e os casacos de peles

Dizia ontem a Cinha Jardim no jornal da noite da SIC que gostava muito dos animais e tinha pena que os matassem, mas por outro lado usar um casaco de peles é daquelas coisas chiquérrimas. Ainda estive na dúvida se valia a pena comentar isto, mas enfim, aqui vai.
Que gostamos muito de animais e todos temos muita pena dos males que lhes fazem, isso todos nós concordamos, como todos gostamos da natureza, e do campo, e do fim da pobreza e da paz no mundo. É bonito e fica bem. Com isso até eu concordo. Mas fará sentido alguém que acha importante defender os elefantes andar a comprar peças em marfim para ter em casa, porque é chique?
As opções e preferências que assumimos como consumidores são a maior arma que temos para defender aquilo em que acreditamos. Isto aplica-se a defesa dos direitos dos animais, como ao combate a poluição, e outros. Quem acredita no que diz deve usa-las sempre, e são elas que definem o que estamos na prática a defender.

segunda-feira, novembro 03, 2003

Obsessão

Segundo uma sondagem encomendada pela Comissão Europeia "Cerca de 60 por cento dos europeus classificam Israel como o país que mais ameaça a paz mundial"
"Para os europeus, o país mais perigoso depois de Israel é o Irão, seguido pela Coreia do Norte, pelos Estados Unidos da América (ambos com 53 por cento das respostas) e pelo Iraque (52 por cento)."
Ao contrário do que Carla diz, os europeus considerarem Israel uma maior ameaça á paz mundial do que um país como a Coreia do Norte, que por sua vez é posta lado a lado com os EUA, só pode ser explicável pela obsessão anti-americana que tomou conta do pensamento europeu. Comparar a Coreia do Norte com democracias era algo até agora património do iluminado líder parlamentar do PCP. Pelos vistos deixou de ser.
Por outro lado, a reacção exacerbada de diversas organizações judaicas, a evocar racismo, demonstra traumas antigos por digerir mas sem razão de ser. Os traumas, esses são mais que compreensíveis. E é por serem tão sérios que não devem ser evocados a torto e a direito como vem sendo hábito.

Monteirisses

O CDS encontra-se a direita do PSD, mas nem sempre teve a capacidade de ocupar esse espaço devidamente. Umas vezes por falha própria, outras pelo poder de atracção do PSD, que é daqueles partidos que consegue a maravilha de ter de tudo dentro de si. Estando no governo, e com a reviravolta sobre a Europa, torna-se ainda mais complicado para o CDS desempenhar o papel que lhe cabe. E quem acha que existe um espaço por ocupar na direita, não pode deixar de acompanhar com alguma curiosidade e expectativa a emergência da Nova Democracia. Da mesma forma que acompanhou a eventualidade do Partido Liberal vir a ser formado pelo Santana Lopes. Falo por mim, pelo menos.
Sente-se a falta de um partido conservador, mas liberal na economia. E que o liberalismo na economia seja a principal tónica.
A primeira desilusão veio com a ideia vaga que Manuel Monteiro agora defende, que a Nova Democracia não é enquadrável nas definições tradicionais, e será uma espécie de partido acima dos partidos. O que a distingue são as pessoas em si.
Trazer novas pessoas para a política é positivo. Se o conseguir já é uma qualidade. E se trouxer um novo estilo e postura ainda melhor. Mas a ideia de superior legitimidade e integridade, sempre em contraponto com aquele conceito geral do sistema, dos interesses instalados, da decadência da democracia... não me parece apelativo nem saudável. Esta ideia de superioridade moral, se for o argumento essencial, é até limitativa de um debate interessante. É empobrecedor. Aliás, foi nesta onda a frase brilhante de que a Nova Democracia não teria pedófilos, e ainda bem. Quando o argumento é nós somos sérios e os outros não, em vez de nós defendemos isto e os eles aquilo, a política e a discussão de ideias perdem.
O importante não é um partido vir dizer que é de direita ou de esquerda, mas pelo menos que torne claro qual a sua linha doutrinária. Isso a Nova Democracia parece ainda não ter feito, e é uma pena que pareça fugir a fazê-lo.
Ainda assim, na entrevista de hoje ao Público, Manuel Monteiro aponta uma ideia interessante, a defesa de uma taxa única de IRS. Fica como tema para outro dia.

domingo, novembro 02, 2003

Somos uns campeões na estrada

É daquelas coisas com que conseguimos impressionar qualquer estrangeiro que por aqui passe. De tanto se falar em número de acidentes, feridos e mortos, as tantas perde-se a noção do fenómeno.
Quem não teve um conhecido que faleceu em acidente de viação? Quantas vezes se consegue ir a lisboa e voltar sem nos cruzarmos com algum acidente? Não é difícil lembrar de dias em que nos cruzamos com 2, 3, 4. Mesmo em auto-estrada, supostamente a via com menor propensão a provocar acidentes, estão longe de ser coisa rara.
Gostava de acreditar que o problema está nas estradas, ou nos carros, ou nos limites legais, ou na repressão insuficiente. Se assim fosse o problema até se resolvia. Mas o essencial está na mentalidade, na forma de conduzir, na nossa "cultura automobilística”. É algo que não se muda facilmente. Até acho que a capacidade que o estado tem de a influenciar é limitada. Isto porque, o condutor realmente irresponsável e perigoso na estrada, não será a pessoa que tipicamente se comove com as várias campanhas de sensibilização a que assistimos.
Enfim, se calhar sou eu que sou um céptico. De qualquer modo, se o problema é este, é nesse sentido que se tem de responder. Agravar as penalizações sem limite talvez não seja a resposta certa. Com este impulso de repressão indiscriminada chegamos a situações que fazem pouco sentido, como alguém poder perder a carta por falar ao telemóvel pelo auricular. E como verificamos todos os dias na estrada, não tem mudado grande coisa.