segunda-feira, novembro 03, 2003

Monteirisses

O CDS encontra-se a direita do PSD, mas nem sempre teve a capacidade de ocupar esse espaço devidamente. Umas vezes por falha própria, outras pelo poder de atracção do PSD, que é daqueles partidos que consegue a maravilha de ter de tudo dentro de si. Estando no governo, e com a reviravolta sobre a Europa, torna-se ainda mais complicado para o CDS desempenhar o papel que lhe cabe. E quem acha que existe um espaço por ocupar na direita, não pode deixar de acompanhar com alguma curiosidade e expectativa a emergência da Nova Democracia. Da mesma forma que acompanhou a eventualidade do Partido Liberal vir a ser formado pelo Santana Lopes. Falo por mim, pelo menos.
Sente-se a falta de um partido conservador, mas liberal na economia. E que o liberalismo na economia seja a principal tónica.
A primeira desilusão veio com a ideia vaga que Manuel Monteiro agora defende, que a Nova Democracia não é enquadrável nas definições tradicionais, e será uma espécie de partido acima dos partidos. O que a distingue são as pessoas em si.
Trazer novas pessoas para a política é positivo. Se o conseguir já é uma qualidade. E se trouxer um novo estilo e postura ainda melhor. Mas a ideia de superior legitimidade e integridade, sempre em contraponto com aquele conceito geral do sistema, dos interesses instalados, da decadência da democracia... não me parece apelativo nem saudável. Esta ideia de superioridade moral, se for o argumento essencial, é até limitativa de um debate interessante. É empobrecedor. Aliás, foi nesta onda a frase brilhante de que a Nova Democracia não teria pedófilos, e ainda bem. Quando o argumento é nós somos sérios e os outros não, em vez de nós defendemos isto e os eles aquilo, a política e a discussão de ideias perdem.
O importante não é um partido vir dizer que é de direita ou de esquerda, mas pelo menos que torne claro qual a sua linha doutrinária. Isso a Nova Democracia parece ainda não ter feito, e é uma pena que pareça fugir a fazê-lo.
Ainda assim, na entrevista de hoje ao Público, Manuel Monteiro aponta uma ideia interessante, a defesa de uma taxa única de IRS. Fica como tema para outro dia.

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