sexta-feira, novembro 25, 2005

Sondagens - Pormenores

A forma como as duas sondagens do Público e do DN foram lançadas ontem é, na melhor das hipóteses, um bom exemplo de como a informação das sondagens não deve ser tratada. Ou, na pior, manipulada.

No público é anunciado que Cavaco aumenta vantagem e ganha facilmente à 1ª volta, com base nos seguintes resultados:

Cavaco Silva: 57%
Manuel Alegre: 17%
Mario Soares: 16%
Jerónimo de Sousa: 5%
Francisco Louça: 4%
Outros: 1%

No mesmo dia, no DN, é anunciada outra sondagem sob o título "Cavaco Silva perde terreno e não garante eleição à primeira volta (volta)". Os resultados são os seguintes:

Cavaco Silva: 44%
Manuel Alegre: 15%
Mario Soares: 11%
Jerónimo de Sousa: 5%
Francisco Louça: 5%

Uma e outra sondagem foram sendo comentadas ao longo do dia como apresentando resultados contraditórios. Numa com Cavaco em larga vantagem, e noutra como não garantindo a vitória à primeira volta.

Como se vê facilmente os resultados de uma e outra não são de forma alguma comparáveis. No Público é feita distribuição de indecisos e de quem diz que não irá votar, ao passo que no DN não. Se somarmos as percentagens apresentadas pelo DN temos 79%, quando sabemos que no dia da eleição elas serão 100% (incluindo votos em branco). Feita essa distribuição na sondagem do DN, os resultados passam a ser os seguintes:

Cavaco Silva: 56%
Manuel Alegre: 19%
Mario Soares: 13%
Jerónimo de Sousa: 6%
Francisco Louça: 6%

Isto é, são em tudo semelhantes aos resultados da sondagem no Público. Aliás, podemos fazer o exercício inverso com a sondagem do Público, e olhar apenas para os resultados "brutos":

Cavaco Silva: 39%
Manuel Alegre: 11%
Mario Soares: 10%
Jerónimo de Sousa: 3%
Francisco Louça: 3%
Outros: 1%

Mais uma vez, voltam a ser em tudo semelhantes ao da sondagem do DN. Aliás, seguindo a lógica do DN, na sondagem do Público Cavaco Silva encontra-se ainda mais longe de ganhar à 1ª volta. Sim, é verdade que Cavaco tem 39% de intenções de voto, e os restantes candidatos todos juntos têm apenas 28%, mas esse deve ser mero pormenor.

Costuma-se dizer que as sondagens valem o que valem. Penso que são um indicador importante das preferências dos eleitores, da situação da campanha, do peso de cada candidato. Aliás, é plausível considerar que as sondagens, sendo uma avaliação das preferências dos eleitores, acabam elas próprias por influenciar e condicionar em muito a percepção da campanha por parte das pessoas, e a sua própria decisão de voto. Isto é, as sondagens acabam por ter influência sobre a própria realidade que pretendem espelhar.

Por todos os motivos, deve haver profissionalismo na forma como são feitas, e na forma como são divulgados os seus resultados.

sexta-feira, novembro 11, 2005

As razões da discórdia

Muito do que é falado no artigo de Tiago Mendes no DE é de facto interessante para observar o palco político e social. Nem tudo se deve reduzir à retórica, à imagem, à desenvoltura na defesa de uma opinião, à pessoalização. Mais do que isso, uma vez eliminada a forma e exposto o conteúdo, não temos de nos limitar a discutir sobre quem tem razão e depois assumir essa razão como uma verdade atingida e inquestionável. Deve haver pouca coisa mais subjectiva que saber onde está a "razão" no sentido da detenção da verdade, ou de conhecer o real como ele efectivamente é.

Mas, para além disso, é enriquecedor conhecer as razões que levam alguém a defender algo diferente, e perceber que essa diferença além de não significar necessariamente uma melhor ou pior intenção, nem tão pouco um erro ou má interpretação dos factos e da realidade, pode fundar-se em razões objectivas de fundo, como valores diferentes. Nesse caso, é natural que as opiniões sejam diferentes. Conhecer as razões da discórdia é um elemento enriquecedor do debate. Não implica que tenhamos de concordar com a diferença, nem sequer aceita-la no sentido de a achar razoável ou admissível, mas implica que a compreendamos. O que faz toda a diferença.

A ler

No Abrupto, sobre os acontecimentos em França.

Espanta-me, de facto, toda a forma como na Europa se tem lidado com este problema.

terça-feira, novembro 08, 2005

Uma chamada de atenção

Os acontecimentos de Paris e por toda a França são um alerta para todos os países europeus e para as suas políticas de emigração. A política de assimilação dos franceses falhou, e é visível aos olhos de todos, porque ela não integrou.

Os emigrantes em muitos casos vivem “na” sociedade de acolhimento, mas não vivem “com” a sociedade de acolhimento e é essa a via que deve ser seguida. Aqueles jovens que fazem os distúrbios têm a nacionalidade francesa, mas não se sentem franceses ou pelo menos são considerados franceses de segunda. É claro que não se justifica atacarem instituições publicas que também os servem .

É bom que todos os países receptores de emigração pensem nas gerações futuras que já nascem nos países de acolhimento e que os façam sentir-se cidadãos em toda a ascensão da palavra. Ensinem esses jovens a sentirem-se integrados e que defendam a sua nova nação de acolhimento como sua, que ajudem no seu desenvolvimento, no seu sucesso e que não vivam em detrimento, daquilo que os políticos estão dispostos à dar-lhes. Portugal tem que estar atento e criar junto dos cidadãos estrangeiros de segunda e terceira geração um sentimento de Portugalidade e defender Portugal como o seu país, mas o país também tem que sentir que eles são parte integrante de Portugal.