sexta-feira, janeiro 30, 2004

Transportes

Volta e meia são feitas campanhas que nos explicam como é proveitoso deixar de vir para Lisboa de carro e passar a utilizar os transportes públicos. As vantagens são evidentes. Poupa-se dinheiro, geralmente também se poupa tempo, e é mais certo a hora a que se chega ao destino. Sendo o tempo que perdemos a ir e vir do trabalho o mais estupidamente perdido, é até uma possibilidade de gastar esse tempo menos estupidamente, por exemplo com leitura (embora ir no carro a ouvir uma radio também não seja de desprezar...). Pode-se dizer que são argumentos de peso.

Ainda assim, já se sabe que não são grandemente convincentes para quem tem a possibilidade de levar o seu carro para o trabalho. É o comodismo de ir sentadinho a nossa vontade, mesmo que a gastar e demorar mais, e pelo caminho nos enervemos com o comportamento dos outros condutores e os percalços normais do trânsito nas horas de ponta.

Podem melhorar vias e acessos, mas o transporte público é, de facto, a solução para os problemas de congestionamento nas grandes cidades. Isto já eu e todos sabemos. Mas, o que quem os utiliza também sabe é que andar de transportes não significa necessariamente fazer uma viagem breve, calma e descansada. Estes circulam geralmente perto do máximo da sua capacidade, e não são poucas as vezes em que precisamos empurrar e corremos risco de atropelamento para conseguir entrar no comboio, no metro, no autocarro. É notório como uma mera greve da Carris, ou qualquer acontecimento que faça oscilar por pouco que seja a quantidade de utilizadores, torna a ida para Lisboa numa autêntica aventura de salve-se quem puder.

Como disse, é um facto que os transportes públicos são a solução para os problemas de Lisboa, do Porto, e das grandes cidades em geral. Mas também é verdade que, pelo menos em Lisboa, a rede de transportes está longe de preparada para a eventualidade de todos passarmos a deixar o nosso carro em casa. E existem razões para que alguns continuem a preferir ir por sua conta.

quinta-feira, janeiro 29, 2004

Revelações

Blair tem vindo nos últimos tempos a surpreender tudo e todos. Essencialmente na política externa, em que a mudança se tornou notória com a questão da intervenção no Iraque, mas agora também internamente com a questão das propinas. Passou de um Guterres à inglesa, de sorriso fácil e navegação à vista, a um político que finalmente parece começar a ter convicções e estar disposto a defende-las ainda que a custo do facilitismo e da conveniências do momento. Pessoalmente acho que a viragem foi para o lado certo, mas a atitude por si só, já merecia o reconhecimento, pois é no fundo isso que se espera de um político. Curiosidade: apesar de todas as campanhas e contratempos, os ingleses parecem continuar a reconhecer qualidades a este novo governante que lhes foi revelado. Talvez sejam as vantagens de serem políticos mais seniores a governar.

quarta-feira, janeiro 21, 2004

Será preciso comentar?

Jornal Nacional desta noite: Manuela Moura Guedes, esse marco do jornalismo português, apresenta no seu estilo inconfundível notícias que não poderiam ser passadas senão na TVI. Dois exemplos.

"Britânicos não desistem até saber", o parlamento britânico exige sem piedade que Tony Blair justifique onde estão as armas de destruição massiça do Iraque. Atitude inédita, tirando o pormenor de se verificar em todos os países que deram apoio à invasão.

"Bush faz discurso fundamentalista", "vai atacar o resto do mundo para se defender".

quinta-feira, janeiro 15, 2004

"Governo propõe congelamento dos salários acima dos mil euros"

Este é o tipo de medida bem menos inocente do que possa parecer. A função pública já é uma máquina pesada e ineficiente, e por natureza pouco estimulante por não reconhecer o mérito dos trabalhadores. É o local de trabalho ideal para quem pretende ter uma vida profissional com estabilidade, sem grande ambições. O jovem que sai da universidade cheio de sonhos e força para começar uma carreira de sucesso vai provavelmente procurar o sector privado. Quem demonstra qualidade no seu trabalho encontra em geral melhores condições no sector privado. Ha um trade-off entre a estabilidade e a segurança, e a possibilidade de progressão e/ou de um trabalho mais estimulante mas também mais exigente.
Este tipo de medidas vem no seguimento de restrições orçamentais que se impõem e, na impossibilidade de poder despedir pessoas, a solução é fechar as entradas e pagar cada vez pior, em particular àqueles que mais ganham.

Assim, a função pública que já é o que é, vai tendo cada vez mais dificuldade em atrair quadros competentes e com qualidade, que são exactamente os mais necessários. Pelo contrário, vai-se tornando mais atraente para aqueles que a procuram por terem pouco a oferecer.

domingo, janeiro 11, 2004

Livros

A propósito deste post do JPP, a internet veio tornar ainda mais claro como a imprensa escrita, e o livro em particular, têm um lado físico que não é substituível.

Os livros têm uma personalidade própria que vai para além do seu conteúdo. A sua forma, o seu toque... é algo que nos faz muitas vezes fazer questão de comprar um livro, ainda que o pudessemos pedir emprestado.
Depois de o lermos, de o folhearmos, de o sentirmos, um bom livro ganha para nós um valor que não tem a ver com o seu custo ou utilidade, mas com uma relação que se criou entre o leitor e a obra, e com os momentos e sensações que ela lhe proporcionou. Não é só o livro em geral, mas aquele em particular, a que nos sentimos ligados. Talvez por isso sintamos que seja tão importante guardar e conservar os livros que lemos, como objectos que nos são queridos e íntimos. Para o bem e mal, somos um pouco aquilo que foram as nossas leituras.

Acredito que nem todos sintam as coisas desta forma, mas devem pelo menos concordar que pegar num jornal, e ainda mais num livro, para ler tem muito mais graça que ir a internet e ler as coisas no monitor.

quarta-feira, janeiro 07, 2004

Marte

Depois de ver o telejornal, e passar os olhos por uns jornais, tive de recorrer ao arquivo on-line do público para verificar se este artigo era mesmo verdade ou fruto da minha imaginação. Pelos vistos aconteceu mesmo.

Devo confessar, a ideia que costumo ver defendida pelo JPP, da descoberta do espaço como uma resposta natural à progressiva pressão sobre os recursos no planeta, e a procura de novas possibilidades de expansão, não me convence particularmente.

Não percebo é como este tipo de notícia pode ser praticamente esquecida passados um ou dois dias. Como é possível que a expectativa das imagens que estão a vir de Marte e das novidades que podem trazer não nos apaixonem a todos? A possibilidade de podermos vir a descobrir que em tempos houve vida num outro planeta? Ou mesmo se alguma poderá ainda existir. E se existe ou existiu, que formas terá assumido? É inimaginável...
Como é possível alguém não ficar fascinado ao ver o desafio que representa o mundo que temos a descobrir, tais são as portas que a descoberta do espaço podem abrir para o nosso conhecimento e entendimento do universo e do nosso papel nele?

domingo, janeiro 04, 2004

O Sorriso de Mona Lisa

Ha dias em que mais vale não ir ao cinema. E não, nem estou a falar do filme. Estou a falar dos dias em que nos calham certas personagens que acham normal estar a comer pipocas, atender chamadas no telemóvel, ou estar do ínicio ao fim do filme a comentar toda e qualquer piada ou acontecimento. E não, não estou a comentar de sussuros, estou a falar de pessoas que se acham no direito de estar ali a comentar o desenrolar da história como se estivessem na sua sala de estar.

Se isto é uma completa falta de respeito, ou apenas sintoma da estupidez que nos persegue e acompanha por todo o lado, não sei muito bem. Estes comportamentos fazem-me tanta confusão e sou tão incapaz de os compreender que preferi nem pedir as pessoas para estarem caladas e deixarem os outros apreciar o espectaculo pelo qual pagaram bilhete, tal como elas.

sexta-feira, janeiro 02, 2004

Festa pouco invicta

Rui Rio é um presidente de camara que devia servir de exemplo a todos os outros, e todas as lutas que tem empreendido o confirmam. Diz o que pensa, enfrenta interesses e segue as convicções sem olhar para o lado. É uma lufada de ar fresco no panorama político em geral, e no autárquico em particular, em que os aparelhos partidários e as clientelas têm uma influência sufocante. O simples facto de ter ganho as eleições foi o exemplo máximo de democracia, ao mostrar como não existem vitórias antecipadas.

Dito isto, acho que Rui Rio devia ter um pouco mais de cuidado na forma como comunica com os municipes. Por exemplo, não faz muito sentido numa passagem de ano a festa na rua ter terminado à meia-noite. A diferença de custo para uma festa como é suposto haver numa cidade como o Porto seria irrelevante para a câmara, e a impressão negativa que este tipo de coisas causa nas pessoas não é irrelevante de todo.