quarta-feira, junho 30, 2004

Ladrão de privacidade!

Quem anda de transportes ou em qualquer outro lugar público sabe que existe um objecto de estimação inseparável que toca ou vibra constantemente. Esse objecto de estimação expõe a nossa vida e a dos outros, o que é paradoxal quando o que mais desejamos é o direito à privacidade. Penso que já devem saber à que objecto me refiro, trata-se do telemóvel.

Pois, numa sociedade que promove o direito à privacidade e ao respeito pelo outro é incrível como se inventa tecnologia que expõe essa mesma intimidade e invade a dos outros. Enquanto, passamos por ilustres desconhecido nos nossos prédios, na maior parte das repartições públicas ou em qualquer outro local, graças a esse objecto maravilhoso o meu vizinho de autocarro pode ficar a saber se vou jantar fora, com quem e a que horas. Ele até pode ficar a saber o grau de intimidade que tenho com a pessoa com quem estou a falar, pela forma e pelo conteúdo da conversa.

Não é raro expormos a nossa vida em público. São exemplo disso discussões conjugais, amigas que contam o fim de semana com o tão desejado futuro namorado, ou mães que ligam para perguntar aos filho(a)s se faltaram às aulas…Muitas vezes não nos damos conta do ridículo, que é falar aos “gritoooohs” num lugar público ou na rua. Apesar destas situações contrangedoras não quero deixar de elogiar o mérito da sua existência e afinal cabe a cada utilizador ser responsável pelo tipo de conversa que tem.

segunda-feira, junho 28, 2004

No Acidental

Um post do Luciano Amaral que vale a pena ler. Não concordo com a consideração que faz de Durão Barroso de ir embora, nem com a conclusão de valer mais o Ferro genuíno que os Ferros encapotados que representa este governo. Ter o PS no poder seria certamente pior, mas concordo que "talvez assim se ajude ao aparecimento, dentro do PSD e do CDS, de pessoas verdadeiramente capazes de, em futuras eleições, finalmente proporem um programa de liberalização da sociedade e da economia portuguesas".

Nem sempre o que parece é, e este governo é um desses casos. A principal desilusão é ver que o cinto de que tanto se fala não tem sido apertado como devia, mas apenas com medidas pontuais e que não resolvem o problema real das finanças. Quando se fala em aliviar o sacrificio, confesso que fico com algum receio pelo que aí vem.

Quem diria...

que neste momento Durão Barroso estaria prestes a deixar de ser primeiro-ministro. Durão Barroso faz bem em aceitar o convite para presidente da Comissão Europeia. É uma oportunidade dificilmente repetível, e que honra Portugal. É uma forma diferente de servir o país, e não a vejo como uma fuga de responsabilidades. Ainda assim, faz sentido colocar duas questões:

Deve haver eleições antecipadas? Hoje vota-se mais nas pessoas que nos partidos e, por isso mesmo, não é linear que se possa trocar de primeiro ministro sem mais nem menos. Tenho as minhas dúvidas sobre o assunto. Pessoalmente, prefiro que não hajam eleições por ter a certeza que daí nada de bom viria para o país. Depois do aparente esforço que se tem estado a fazer, este governo deveria poder concluir a legislatura que iniciou, e aí sim ser julgado pelos resultados.

E o senhor que se segue? Aparentemente vai ser o Santana Lopes, e ele continua com o dom de despertar paixões e ódios. Ir para Presidente da Républica foi das coisas mais disparatadas que já lhe passaram pela cabeça, mas vê-lo como primeiro-ministro não me faz grande confusão. Se não colocar em causa a ideia de rigor nas finanças, até tem boas condições para resolver o problema de comunicação que persegue este governo, e manter a coesão da coligação. Não nos faz mal nenhum ter alguém que saiba agitar as águas.

quinta-feira, junho 24, 2004

Aborto (resposta)

Já aqui em tempos falei um pouco do que penso sobre o tema, e sou obrigado a discordar da Maria. Não é um tema fácil, e as duas partes têm razões e argumentos fortes. Mas a mim faz-me alguma confusão que se possa escrever e opinar sobre o aborto, sem fazer uma única referência ao feto, como é o caso. Não é uma coincidência, mas sim sintomático de um esquecimento que as pessoas têm demasiada facilidade em ter.

Discutir o aborto trata-se, essencialmente, de estabelecer as fronteiras e os limites entre aquilo que são os direitos, os problemas e os dramas legítimos da mãe (e do pai, convém não esquecer), e os do feto. E eu simplesmente não acho razoável que a uma das parte seja dado livre arbitrío para decidir sobre a outra.

Que as mulheres sejam julgadas por ter feito abortos também me suscita algumas dúvidas, mas está longe de ser a questão para se decidir sobre a liberalização (ou não) do aborto.

quarta-feira, junho 23, 2004

Aborto!

Ao realizarem este julgamento estão a querer dar um bom exemplo da boa moral e dos bons costumes. Vamos deixar de ser hipócritas não há razão para que não se legalize, dado que ele se pratica na mesma, na ílegalidade e em condições muito prejudicias para as mulheres. Aliás, se fossem as entidades públicas a fazê-lo provavelmente haveria outro controlo sobre esta prática.

Não sou a favor do aborto contrariamente aquilo que possam pensar. O aborto não pode, nem deve ser usado como meio de contracepção. E dúvido que existam mulheres que façam um aborto levianamente. A prática do aborto é uma questão que depende sobretudo da consciência de cada mulher. E tenho a certeza que nenhuma mulher faz um aborto por fazer, mas tem motivos muito sérios.

Não devemos condenar, nem julgar sem saber as razões mais íntimas para fazer um aborto. A gravidez pode ter surgido de uma relação não desejada ou de um encontro ocasional que não tinha futuro. E essas mulheres não têm que ser avaliadas, nem julgada pelas suas práticas sexuais, ou pelas decisões que tomam em relação à sua vida íntima. Quando assumem a criança muitas vezes ficam sozinhas sem apoios nenhuns, e não me venham as instituições próvida ou Estado dizer que apoiam essas mulheres, porque na prática a ajuda é muito reduzida ou fictícia.

Para, mim não pode haver pior condenação do que já sentir a culpabilidade de ter feito um aborto, quanto mais serem humilhadas face à opinião pública e aos tribunais.

terça-feira, junho 22, 2004

As Conversas

As conversas têm que ser pelo menos a duas vozes. As conversas são um instrumento quotidiano que permite expor e debater ideias. As converas criam ligações, porque elas permitem conhecer melhor o outro. As conversas podem ser um momento intenso entre duas pessoas, pois elas permitem a cada um revelar a sua forma de pensar e de estar na vida. Por isso, muitas vezes as converas mais intimistas e profundas põem uma pessoa a nu, na sua forma de sentir e de viver.

As conversas criam momentos de grande intensidade, são elas que nos ajudam a esclarecer dúvidas existênciais, a pedir ajuda, a esclarecer mal-entendidos, ou pura e simplesmente comunicar ao outro uma parte do nosso mundo interior. Elas são regeneradoras de felicidade, entusiasmo ou por vezes criam tristeza. As conversas ritmam as nossas relações, pois consoante o tipo de conversas que temos com determinadas pessoas, assim é a nossa mesma ligação as essas pessoas.

As conversas, hoje em dia, tomam várias formas. Podem ser por mail, por sms e por via telefónica, e muitas vezes dispensam a visualização do outro. Esta situação muitas vezes acontece, por se ter cada vez mais dificuldades em lidar com as nossas emoções, sentimentos ou por medo do outro. É através das conversas que temos o retorno daquilo que representamos para os “outros significativos” e ficamos a saber a maneira como eles nos vêem.

segunda-feira, junho 21, 2004

Força do futebol

Ontem, como na vitória do Benfica na taça, como em inúmeras outras ocasiões, verificamos que o país vive e respira futebol. Não existe, nem de perto nem de longe, qualquer outro tipo de acontecimento que mobilize as pessoas de tal forma, que as faça viver as emoções das vitórias e das derrotas com tanta paixão e de forma tão aguerrida. É assim em Portugal, como em outros paises.

No entanto, ao assistir a estas fases de euforia, como na noite de ontem, não posso deixar de me perguntar se não estaremos a cair em exagero. Uma quase histeria colectiva.

quinta-feira, junho 17, 2004

Irresponsabilidade

Recentemente, um programa de televisão apresenta dois adolescentes pais. Ele de 13 anos, ela de 16, pais de uma bébé de 3 meses. A bébé muito bonita, e a plateia televisiva cheia de ternura e compaixão por estes dois jovens. Parecia que, perante este cenário, tanto os espectadores como a apresentadora só viam o quadro ídilico de duas crianças que tiveram uma criança. O que é pertinente ressaltar é a forma como este fenómeno da parentalidade na adolescência foi tratado nesta emissão.

A verdade é que este fénomeno em Portugal é quantitativamente significativo, dado Portugal ser o segundo país da UE com maior número de mães adolescentes a seguir à Inglaterra. E acho que é importante alertar quer pais, quer adolescentes para esta situação, mas nunca desta forma como se fosse uma propaganda, ou apresentando a maternidade na adolescência como uma coisa “muito boa” ou de forma sensacionalista.

Neste programa valeu a lucidez de um psicólogo que não teve com rodeios e explicou as consequências e impacto que tem o facto de se ter uma criança quando se ainda está numa fase de transição entre a adolescência e a idade adulta. E garanto que os aspectos são maioritariamente negativos, quer para os pais adolescentes, quer para a própria criança. Por isso, penso que a televisão que é vista por milhões de pessoas e jovens tem que ter muito cuidado na forma como aborda problemas sociais.

quarta-feira, junho 16, 2004

Declínio

Compreendo as razões e a tendência geral, mas é com alguma tristeza que observo o progressivo declínio da blogoesfera, com o fechar de portas de blogs como o Guerra e Paz, Abram os Olhos, O Comprometido Observador, entre outros.

O Abrupto, em particular, sempre foi uma referência. O JPP é uma pedrada no charco, uma lufada de ar fresco, num panorama nacional por vezes tão pobre, miserabilista e mesquinho como o português. Não é por acaso que sempre foi visto como um outsider dentro do seu partido, e que a sua passagem pela distrital de Lisboa foi o que foi. É por isso com muita tristeza que o vejo despedir-se do comentário à vida política portuguesa. Ficamos todos mais pobres.

terça-feira, junho 15, 2004

Paixões...

As paixões fazem-nos correr atrás do que gostamos. As paixões dão uma razão de viver e movem montanhas. Por uma paixão seja ela qual for a pessoa sente-se viva, dá sentido à sua vida e ao seu viver. A paixão contagia os que estão à nossa volta e os que mais nos apreciam, pois admiram o nosso lado apaixonado. A paixão aumenta há medida que descobrimos o quanto a nossa paixão nos permite ser felizes e sentirmo-nos realizados.

A nossa paixão distingue-nos dos outros porque quando falamos dela os nossos olhos brilham como as estrelas numa noite de céu estrelado. A nossa paixão cria laços com aqueles que partilham dessa mesma paixão e quando estamos juntos o laço que nos une é esse sentimento apaixonado de gostarmos da mesma coisa. Por isso, a paixão desde que não seja doentia e que a partilhemos, ela é um regenerador de vitalidade nas nossas vidas.

domingo, junho 13, 2004

As campanhas eleitorais - uma reflexão que se impõe

Um artigo no Público que vale especialmente a pena ler.

Como JPP defende, e por muito que custe às máquinas e aos aparelhos partidários, a forma de fazer campanhas tem de ser repensada. Consumir uma campanha em visitas a feiras e mercados, e justificá-lo como sendo a forma de ganhar contacto com o país real e as preocupações dos portugueses, é pura demagogia.

quarta-feira, junho 09, 2004

Morte de Sousa Franco

Há que saber distinguir entre as opiniões e as pessoas, entre o político e o homem. Suponho que todos nos sentimos um pouco mais pobres, e paramos para reflectir um pouco, depois do que se passou hoje de manhã.

terça-feira, junho 08, 2004

Medo,

Leva-nos a não acreditar nas nossas potencialidades, nas nossas capacidades. O medo bloqueia-nos, torna-nos frágeis aos nossos olhos e perante os outros. O medo faz-nos recuar na vida, devido ao medo de enfrentar os nossos medos. O medo tem várias formas, pode ser o medo da responsabilidade profissional, o medo da relação com os outros. Pode ser o medo de amar o outro, ou então de nos entregarmos numa relação de amizade, ou até mesmo numa relação de amor. O medo de ser magoado provoca uma reclusão involuntária, provocando solidão.

O medo pode ser por vezes uma justificação, ou desculpa comóda quando não queremos avançar, mudar o rumo da nossa existência e ficamos presos aos hábitos, porque estes são tranquilizadores, são sinónimo de um estado já conhecido e dominado. Os medos somos nos que os criamos muitas vezes, após um insucesso seja ele de que ordem for, passa a ser um medo quando este não é ultrapassado. Os medos também nos são transmitidos por familiares, desde da mais tenra infância, e então carregamos os medos dos nossos pais, irmãos, avós…
Então, vivemos com medo de que os outros descubram os nossos medos.

sexta-feira, junho 04, 2004

Ora Vejam bem!

Este governo defende que o Estado deve ser o menos intervencionista possível e por tal, diminuí considerávelmente a sua participação em áreas como a da economia, a do ensino… São exemplos disso as privatizações e as liberalizações nos mercados financeiros, mas também ao nível do ensino básico que hoje é gerido pelas autarquias.

Agora, aparece o Ministro da saúde com uma ideia intervencionista de estabelecer cotas para reduzir o número de mulheres no curso de medecina. Vejam bem a contradição! Portugal tem de se orgulhar de ter uma das taxas mais elevadas de profissionalização feminina, não é exactamente pelas mesmas razões que no resto da Europa do norte, mas deixando esse à parte. É importante que as mulheres estejam na vida activa, para a sua autonomia e independência pessoal, assim como, para a economia doméstica dos lares portugueses. Não cabe de modo algum ao Estado decidir as orientações profissionais das mulheres!

quarta-feira, junho 02, 2004

Iletrismo Técnico!

Ao dirigir-se a um serviço especializado da administração pública ou a outro serviço técnico em geral, é possível que se depare com um funcionário que faz questão de utilizar uma linguagem muito própria, ou seja, termos específicos da sua área em que uma pessoa sente-se, ou fazem-na sentir-se iletrada. E isso acontece independentemente do seu nível de habilitações.

Esta situação surge devido às diferentes linguagens técnicas, vocábulos próprios a determinadas profissões que nem sempre são de uso comum e que nem todas as pessoas entendem. O que de alguma forma me aborrece é quando o funcionário com uma ar muito prepotente, usa dessa estratégia como forma de dominação. E, pura e simplesmente, faz-nos sentir um “iletrado técnico". Isto verifica-se mesmo com as pessoas que têm formação. Agora, imaginem como é que se devem sentir as pessoas que são analfabetas!

A minha pergunta é a seguinte será que esses funcionários que prestam um serviço não deveriam tentar fazer os possíveis para que se façam entender. Provavelmente, haveria menos erros no preenchimento dos documentos, e perder-se-ia muito menos tempo com burocracias.

Cuidado

O homem está mesmo a ficar maluco! Viram o debate de ontem na SIC Notícias, e os gritos que ele mandou à Ilda Figueiredo?

terça-feira, junho 01, 2004

A Criança...

A criança é um ser sensível, inocente, verdadeiro, puro…cheio de qualidades!
É pena que hoje em dia certos adultos se tenham esquecido que um dia foram crianças e que também eles são possuidores dessas qualidades ou então tudo fizeram para as esquecer! Essas qualidades só vêm ao de cima quando as pessoas deixam de ter medo de mostrar a sua criança interior!

Agitando Fantasmas II

Sem ter como o fazer na substância, é na reacção às críticas e aos ataques que o PP se distingue e mostra uma veia troliteira e agressiva, que não tem seguimento na sua acção concreta no governo, mas joga contra si próprio. A intervenção infeliz do líder da JP a comentar os óculos e as orelhas do Sousa Franco é um exemplo entre outros.

Mas isso não deve escamotear a realidade. O PP influencia o governo na medida da sua proporção, e da debilidade da sua liderança, que é evidente. Muito mais marcante e acentuada tem sido a descaracterização porque teve de passar para poder estar na coligação. Esta teoria com que o Mário Soares gosta de nos brindar de tempos a tempos, de a democracia estar ameaçada por uma direita radical que controla o poder, não é mais que um agitar de fantasmas, que não assusta ninguém.

Agitando Fantasmas I

Há uns bons tempos que se anda a querer passar para a opinião pública o alarme de o governo estar refém de um pequeno partido, radical, estilo extrema direita, anti-europeu, e sem representatividade. De tão "martelada", tem-se tornado parte do senso comum dos portugueses.

É evidente que este governo tem a marca do PP, mas e não é evidente que assim deva ser? Estão ali representados cerca de 9% dos portugueses, sendo que muitos deles terão votado já na perspectiva de esta coligação se erguer. Gostava é que me dessem um exemplo, um único exemplo, de manisfestação ou tradução do tal extremismo ou anti-europeísmo na actuação em concreto deste governo.

Olhando para a realidade, com olhos de ver, não será muito mais acertado pensar que o PP abdicou de grande parte do que pensava e defendia, sobre a Europa e em geral, para poder estar no governo? Estamos em plena campanha para as europeias, área onde o PP mais claramente se distinguia do PSD, e já alguém notou a mínima dissonância, o mínimo desacordo ou nuance de discurso? Isto é verdade a tal ponto que, se o PP tivesse de enfrentar uma eleições sozinho, nem se percebe muito bem no que poderia marcar a diferença ou a sua marca distintiva relativamente ao PSD.