sexta-feira, novembro 07, 2003

Luta Anti-Propinas I

Antes de tratar da questão das propinas, existem alguns pormenores que convém observar. Eu tenho sérias dúvidas sobre o real poder de representação dos dirigentes associativos em geral. Estamos a falar de pessoas que são eleitas em eleições que não conseguem a atenção dos alunos em geral, e são muitíssimo pouco participadas. Digo isto com o conhecimento de causa de quem saiu da universidade há pouco mais de um ano (isso não implica que tenha razão, claro). A realidade dos dirigentes associativos é algo que passa ao lado de 90-95% dos alunos, que não fazem ideia do que aqueles senhores andam a congeminar.
Diria até mais. Uma parte importante do movimento associativo, e uma parte importante, é composta por alunos para quem a universidade e o curso não são mais que um pormenor de menos importância, comparados com a vida social e actividades que envolve o associativismo.
A ironia é a luta contra as propinas ser dirigida por alguns dos que, indiscutivelmente, as devem pagar. É injusto que paguem tão pouco, visto serem pessoas para quem a universidade é muito mais uma casa e local de sociabilização do que um instrumento de formação. Uma coisa não exclui a outra, mas não acho defensável que o estado deva subsidiar os estudos a pessoas que estão 7, 8, 9 anos para concluir um curso de 4. Isto no caso em que os acabam.

Mas então de onde vêm aquelas multidões que ocupam salas do senado, que trancam universidades a chave, fazem marchas, etc? Tenho também dúvidas que muitos dos que participam nesses protestos saibam exactamente a razão de ali estarem. Nalguns casos estão ali porque a malta foi, o amigo chateou para aparecer, para ver o que se passa. E ainda noutros casos, são aqueles alunos que se sentem revoltados com o ensino ou o país em geral, e os protestos são para eles uma forma de exteriorizar essa insatisfação, que nem é necessariamente contra as propinas.

Tudo isto não retira como é óbvio a legitimidade ou relevância aos protestos. São uma realidade que não se pode negar e á qual não se deve fechar os olhos. E existirão de facto muitos e muitos alunos que são contra a existência de propinas no ensino superior. Têm todo o direito que manisfestar essas oposição.
O ponto que quero fazer é que existem muitos e muitos alunos que olham para os seus dirigentes associativos, para as formas de protesto, e as lutas contra as propinas em geral, com uma absoluta indiferença. Em muitos casos com desacordo mesmo. Este é um pequeno pormenor que não deve ser esquecido. Tenho todas dúvidas que a existência de propinas seja a preocupação mais forte entre a realidade dos alunos do ensino superior.

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