domingo, dezembro 14, 2003

Falácias iraquianas

Queria comentar o texto de um amigo meu, disponível aqui, mas que transcrevo integralmente para não correr o risco de fazer citações fora do contexto. Este texto é interessante porque representa muito do sentimento europeu em relação a Guerra no Iraque, e apoia-se em muito dos mitos e falácias que vemos discorrer por muitos.

"Já ando a pensar em escrever sobre a situação do Iraque à alguns dias, mas é
tal a complexidade do assunto que me tenho vindo a retrair de o fazer, não
querendo ser absolutista nem nada que o parece aqui vão algumas questões que me andam a perseguir já á algum tempo.

Porque se considera os iraquianos que andam a matar os americanos de pistoleiros, assassinos e terroristas e se defendiam os valentes timorenses? Vistas bem as coisas não serão os fundamentos da resistência de uns e de outros os mesmos? Os timorenses lutavam pela sua independência e os iraquianos lutam pelo seu território que foi invadido por estranhos á força, não será normal que eles se revoltem contra essas mesmas pessoas?"


Eles quem? Estas a tentar dizer-me que quem leva a cabo os atentados terroristas é o cidadão comum iraquiano revoltado com a usurpação do regime?
A comparação com os timorenses não vou comentar. Devias consultar algumas sondagens feitas no Iraque pós “ocupação”, que são sem dúvida a melhor aproximação possível ao sentimento da população iraquiana, e trazem resultados surpreendentes para muitos dos que se arrogam a incarnação dos interesses iraquianos contra a ocupação americana. Revelam, por exemplo, que aquelas personagens que aparecem nas TV´s a corroborar a tua interpretação da realidade, nem sempre representam o sentimento maioritário.

"Depois há a guerra da comunicação e nesse aspecto penso que nós (Europa e
América) estamos tão limitados como os iraquianos, lembro-me de ver vezes sem
conta aquela imagem da estatua do Saddam a ser derrubada. Será que se os iraquianos estivessem assim tão contentes pela vinda dos americanos (os salvadores) estaríamos agora a ver todos os dias mais e mais mortos do lado dos americanos? A mim parece-me claro que foi uma estratégia para tentar calar as vozes que se levantavam contra a invasão do Iraque, como a dizerem-nos "vêem como eles estão todos contentes em nós termos vindo cá salva-los das garras do terrível ditador!!"

Lembro-me de ouvir um jornalista português a dizer que as populações como viam que nada podiam fazer quanto ao avanço das tropas americanas tentavam ao menos receber alguma comida que eles trouxessem, ao seja, seguiam o velho ditado, "se
não consegues vencê-los junta-te a eles.""


Que dados te permitem dizer que durante a invasão, em zona alguma do Iraque, se fez sentir o mais pequeno levantamento popular em defesa do regime ou contra a chegada americana? Ou pelo menos que essa vontade existia, para ter de ser refreada?

"Outra coisa que me deixa a pensar é quando ouso o senhor Bush, é que este
senhor parece que se acha mesmo o modelador do mundo, para este senhor todas as culturas devem seguir os padrões da sociedade americana, e se assim não for já são terroristas e coisas que tais, ou esta guerra não foi se não uma guerra de culturas? Armas nucleares, químicas ou biológicas ninguém viu, são os próprios peritos da ONU que estavam no Iraque os primeiros a dizer que não havia provas nenhumas como elas existiam.

Ouvi o senhor Colin Powel dizer que se os iraquianos não tinham armas de destruição maciça que o provassem, pergunto eu, como se prova isso?!! E se há alguém que tinha de provar alguma coisa esse alguém não seriam os EUA?!!"


Os peritos da ONU disseram que não havia prova da existência de armas de destruição massiça. Outra coisa que disseram, unanimemente, é que nunca o Iraque mostrou verdadeira colaboração para demonstrar que não as tinha. Será uma coisa absurda de se exigir?

"Lembro-me de ouvir uma menina árabe numa entrevista a dizer que eles não queriam a nossa liberdade, que essa liberdade só iriam trazer coisas más como a prostituição. Porque não deixamos que cada cultura cresça e se transforme pela sua própria vontade e iniciativa ? Ou será que nós portugueses teríamos gostado que alguém tivesse vindo cá a Portugal tirar o Salazar do poder?"

Repito a pergunta, acreditas que esse é o sentimento do cidadão comum iraquiano?
Acho que estas a fazer uma confusão enorme com valores importantes. De qualquer forma, se ha quem defenda a "liberdade" que exista no Iraque, também é verdade que o faz porque a liberdade trazida pelos "imperialistas americanos" lho permite.

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