segunda-feira, dezembro 08, 2003

Informação e opinião

Um post e outro muito interessante em O País Relativo, também referidos no Santa Ignorancia.

Este é uma tema geralmente abordado, e bem, pelo JPP, que devia preocupar a todos. Hoje em dia, quem tenha tido o mínimo contacto com actividade política ou de outra espécie, percebe que apenas existe aquilo que passa nos media. Os meios de informação têm, logo a partida, esse poder enorme de escolher quais as notícias que se justifica ou não serem passadas ao público, e qual o relevo que lhes deve ser dado. A concorrência entre os meios de informação e a lógica destes em seleccionar o tipo de notícias que mais captam a atenção do público, será provavelmente o critério de escolha. Mas nem sempre é assim, como é fácil de ver em certas situações. Os jornalistas têm, de facto, o poder de influenciar decisivamente a percepção que com que as pessoas ficam do que se passa.

Não quero resumir o meu comentário à esperteza saloia das bocas que a Manuela Moura Guedes faz questão de acrescentar no final das reportagens, e que obviamente pretendem marcar a ideia com que ficamos do que foi apresentado. Ou aos recorrentes inquéritos de rua, como refere o Santa Ignorância, em que o jornalista escolhe aquilo que supostamente pensam os portugueses. Nem tão pouco se resume à confusão entre comentário/opinião, por parte de comentadores que até são claramente comprometidos politicamente, como Santana Lopes ou José Socrates. Mais grave é quando as reportagens e as peças jornalísticas em si são direccionadas politicamente, e o fazem sob a capa da "imparcialidade" e da "verdade pura e crua" facultada a todos nós.

Antes de mais, a ideia da informação pura, absolutamente desinteressada e imparcial, é uma ilusão. Como refere O País Relativo, "Para que chegue a merecer o nome, a actividade de informar implica sempre intermediação; ela supõe sempre um exercício de escolha, depuração, confronto de versões, cruzamento de fontes e – também – o comentário plural"... "A ideia de que a «informação» é a transmissão em directo e não-mediada da «realidade» é um crasso erro epistemológico e uma perigosa fonte de demagogia política".
Como se pode explicar que existam jornais mais ou menos afectos ao governo? Que a cobertura da Guerra no Iraque seja tão díspare conforme feita pela imprensa de um ou outro país, mesmo que esta seja livre em qualquer deles? Para dar um exemplo mais nacional, como entender que quando Vilarinho se candidatou contra Vale e Azevedo, este surgisse como um vilão na TVI que disparava escandalos de dia para dia, e uma vítima na SIC?

É uma pena que a classe dos jornalistas, que tudo discute, seja incapaz de se discutir a si própria. Toda e qualquer crítica é respondida com o fantasma da ameaça a liberdade de imprensa e de informação. Mas o jornalismo também deve ser discutido. Quando um jornal ou uma televisão tem um dirreccionamento político, isso é legítimo, mas deve ser assumido perante o público. E as posições defendidas devem ser assumidas como posições, e não como informação. É o que acontece, para dar um exemplo, com a revista The Economist. A revista assume que foi a favor na intervenção do Iraque, ou da Globalização, ou do liberalismo político. E estas tomadas de posição não retiram força ou credibilidade às suas reportagens, ensaios e olhares da realidade. É uma questão de informar de uma determinada perspectiva das coisas, sem usar a capa da imparcialidade de que se esta apenas, pura e simplesmente, a informar.

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