Já agora, e metendo-me um pouco na "conversa" entre o post anterior da Maria, e o comentário da Pop Zé, gostava de dar a minha opinião sobre o assunto.
1. Começando pelo fim, é evidente que as pessoas são hoje em dia bem menos ignorantes do que eram há 10, 20 ou 30 anos atrás. As formas de cultura mudam, mas é claro que neste momento o comum das pessoas tem agora mais conhecimento do que era normal em tempos passados.
No entanto, visto por graus de ensino, não se pode dizer o mesmo. Houve uma expansão brutal do sistema de ensino, em particular no secundário e superior, e a qualidade e a exigência tiveram de ceder à quantidade. É uma tendência que deve e tem de ser invertida, mas existe e é notória. É um desafio do nosso sistema de ensino, a que infelizmente a mentalidade portuguesa não ajuda.
2. É perfeitamente normal que os pais façam todo o esforço para criar os seus filhos da melhor forma, e isso inclui garantir que têm o apoio necessário para ter sucesso nos estudos. Como é natural que cada um se vista como quer e pode. Essa não é a questão. A questão é que aqueles que dão a cara pela luta contra as propinas (e já aqui tive oportunidade de dizer como acho que essa luta faz pouco sentido) são alunos para quem, com poucas excepções, o aumento das propinas para o seu dobro ou o seu triplo não faz qualquer diferença assinalável.
3. E o que dizer sobre a representatividade dos alegados "representantes" dos alunos, que tanto vivem esta luta? As aspas não estão aqui por acaso. Vai fazer dois anos que deixei de ser aluno, e sei muito bem como funcionam as eleições e as associações de estudantes das universidades, e o quão pouco eles representam.
Quanto à sua apaixonada luta contra as propinas, o percurso académico da maior parte destes senhores é por si só suficiente para demonstrar o quanto valem os limitados argumentos que usam. A culpa de chegarem à liderança das associações é também dos alunos que não participam? Em parte será. Mas que estas lutas são em grande parte estranhas ao comum dos alunos, não tenho qualquer dúvida.
4. Temos a constituição que temos, e resta-nos o consolo de saber que já foi bem pior. A verdadeira justiça é a de garantir que ninguém, com o devido mérito e vontade, deixe de poder aceder ao ensino obrigatório ou à universidade por falta de condições económicas. Isso faz-se não só isentando de propinas os mais necessitados, mas apoiando-os verdadeiramente, com uma acção social realmente efectiva.
Justiça social não é, certamente, subsidiar o estudo dos ricos com propinas meramente simbólicas e através de impostos pagos por todos, inclusivé pelos mais pobres e necessitados, cujos filhos só muito raramente chegam à universidade, e muitos nem o ensino obrigatório concluem.
2 comentários:
Concordo com a maioria das ideias expressas no teu post.
Continuo, no entanto, a achar que a luta dos estudantes [e repara, que digo estudantes e não dirigentes associativos] faz sentido.. quando é sentida.
Ou seja, para mim, faz todo o sentido que pessoas que não conseguem suportar os aumentos brutais nos valores de propinas se manifestem contra isso.
Quanto aos dirigentes associativos, e ainda que aches que não são os grandes prejudicados na história, parece-me muito razoável que participem na luta estudantil.
Aliás.. eles são eleitos para representar os alunos. Se os alunos decidem que o melhor é lutar contra o aumento das propinas, é mais que óbvio que os dirigentes apoiem as suas ideias e dêem a cara representando-os.
A Pop Zé
1º Tenho sérias dúvidas que a luta contra as propinas se possa dizer dos estudantes, e como deves saber as declarações rendimentos mais baixas permitem a isenção do pagamento. Nunca me apercebi que o aluno comum se sentisse revoltado pelas propinas que tinha de pagar, isso é apenas mais um mito como tantos outros.
2º Os dirigentes associativos são eleitos pelo grupo de amigos, e não representam mais que isso. Tenho a certeza que já o pudeste constatar na tua universidade.
3º Mesmo com os aumentos que consideras brutais, o valor das propinas continua a ser simbólico perante o custo que um aluno representa para o estado, o que significa que é uma forma indirecta de subsidiação. Ninguém com bom senso defende que apenas os mais ricos devem frequentar o ensino superior. Mas também me parece de puro bom senso que quem pode deve pagar, para que quem não pode possa realmente apoiado como deve ser. Neste momento não acontece nem uma coisa nem outra, e essa é a verdadeira injustiça.
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