sexta-feira, setembro 10, 2004

Ser estudante hoje

O inicio do novo ano lectivo suscita algumas reflexões sobre o que é ser estudante nos tempos actuais em Portugal. A ideia de escrever este post veio depois de ler um artigo de Clara Ferreira Alves da revista do Expresso do fim de semana passado. Um artigo muito pertinente. Quero só citar esta passagem muito significativa. " Só ouvimos falar em estudantes quando um grupo de fedelhos sem causas maiores anda por aí com cartazes e jeans de marca registada a clamar não ter dinheiro para as propinas, tentando que a gente trabalhadora os leve a sério. No meu tempo, à porta universidade não tinha um carro e contavam-se pelos dedos os meninos que andavam de carrinho." Clara Ferreira Alves

Concordo plenamente com o que ela diz só quero acrescentar que em grande parte os pais são também os responsáveis por esta situação. Em primeiro lugar só facilitam a vida a sua progenitura, mesmo que para isso tenham que trabalhar noite e dia. Para que o seu "orgulho de estudante", possa usar a camisa da Gant, os sapatos vela…e deixando de citar tudo o que homogeneiza todos esses estudantes. Quanto ao nível cultura esse esta cada vez mais baixo. Pior é que quando existe um grupo de estudantes que se distingue pelo seu brilho intelectual é tratado de "o grupo dos cromos".

2 comentários:

Um Zé Economicus Basta disse...

Não compreendo a indignação da Maria ao falar do esforço diário da maioria dos pais que quer o melhor para os seus filhos..
Parece-me normal que os pais queiram dar o melhor que conseguirem aos filhos.
Parece-me também normal que trabalhem muito para o conseguirem.
Que outra maneira há de o fazerem?

Também não compreendo qual é o problema de alguns dos estudantes vestirem Gant e calçarem sapatos de vela..
Isso é sinal de quê?

Quanto à homogeneização dos estudantes.. recomendo uma visitinha a uma qualquer universidade do país.
Acho que a Maria rapidamente entenderá que a homogeneização de que fala é um chavão de capas de revista de Psicologia e Sociologia, e que na prática as pessoas são muito diferentes umas das outras.
Como em qualquer outro lugar..

E com base em que dados estatísticos de cultura é que se baseia para dizer "Quanto ao nível cultura esse esta cada vez mais baixo"?
Dificilmente terá havido em Portugal um período em que maior número de pessoas tenha tido acesso a livros, teatro, cinema, escolas públicas e universidades.
Pode não ser o melhor do mundo mas não estará a baixar.

Não me parece que a luta dos estudantes pelo não aumento das propinas seja assim tão despropositada. Aliás, esse grupo de fedelhos deve ter a Constituição da República Portuguesa como livro de Cabeceira.
Vejamos,

"Artigo 74.º(Ensino)
(...)
2. Na realização da política de ensino incumbe ao Estado:

a) Assegurar o ensino básico universal, obrigatório e gratuito;

(...)

e) Estabelecer progressivamente a gratuitidade de todos os graus de ensino;

(...)"

É capaz de não ser um capricho tão idiota, até porque o capricho é apoiado pelos artigos da CRP.

Quanto à Clara Ferreira Alves, se ela só ouve falar em estudantes em situações como a descrita, só pode ser porque passa demasiado tempo no cabeleireiro.

A Pop Zé

Gabriel Peregrino disse...

Os dirigentes associativos não representam ninguém a não ser eles próprios e respectivos grupos de amigos. A maioria dos estudantes não votam, e os que votam fazem-no devido ao chamado "cacique". A este respeito, os números não mentem. E é verdade que os estudantes que manifestam capacidades intelectuais e culturais acima da média podem ser apontados como "cromos"... mas, neste aspecto, o meio universitário é um pouco como a sociedade portuguesa em geral: se um indivíduo é culto e inteligente, o mais certo é que os sentimentos dos outros em relação a ele varie entre o desprezo ("olha o cromo, armado em inteligente"), e a adulação ("é um grande homem"). Não temos meios termos...:)