domingo, janeiro 30, 2005

Iraque

É na forma como decorreram as eleições, e não nos atentados terroristas, que se deve procurar perceber qual será o sentimento e o olhar do iraquiano comum sobre tudo quanto se tem passado. Ver como os iraquianos quiseram ir às urnas, mesmo nas condições de medo e insegurança em que o fizeram, e em número tão expressivo, não pode deixar de fazer pensar. É um acontecimento que devia dar regozijo a todo o mundo ocidental.

quarta-feira, janeiro 26, 2005

Fragilidades

Força ou fraqueza? Depende como encaramos os outros e a nós mesmos! Quando somos demasiado exigentes e inflexíveis connosco, as fragilidades são uma falha imperdoável, que temos que esconder. Tenta-se omitir as fragilidades quando achamos que os outros só nos vêem como imperturbáveis, distantes, e direi quase como insensíveis. Ao aceitarmos a definição de nós mesmos pelos outros, como uma “verdade”, passamos a concordar com eles! Então, as fragilidades não podem existir, porque senão vamos contrariar aquilo que os outros pensam, mesmo se a nossa consciência quer ser o contrário.

Só que, por mais mascaras e estratagemas para não mostrar as fragilidades, algum dia, elas aparecem. Surgem nos momentos mais inesperados, porque baixamos a guarda. As fragilidades são escondidas àqueles a quem queremos agradar. É no mínimo paradoxal já que é a esses que nós nos queremos revelar. Mas o que acontece é que para certas pessoas fabricamos uma nova personalidade, aquela que achamos que elas vão gostar mais, do que realmente aquilo que somos. Não será isso, sim, uma fragilidade, fraqueza, por não aceitarmos quem somos?

As fragilidades são necessárias para nos aceitarmos sob todas as nossas facetas. Ao descobrir quais são as nossas fragilidades e não fazer disso um problema é um passo para elas serem uma força. Passa-se a conhecer as fragilidades e a saber lidar com elas! As fragilidades transformam-se em força quando nós aceitamos que elas podem ser reveladas, sem que nos sintamos diminuídos, e muitas vezes os outros passam a ter uma nova visão de nós mesmos. É verdade que sempre nos ensinaram a não demonstrar as fragilidades, porque os outros vão utilizá-las contra nós! Mas porquê, esconder as nossas fragilidades daqueles que mais amamos! Não será essa mais uma razão para gostarem ainda mais de nós!

sexta-feira, janeiro 21, 2005

Sem comentários

Francisco Louça acha que Paulo Portas não pode falar sobre o direito à vida por nunca ter gerado uma vida.

quinta-feira, janeiro 20, 2005

Urgentemente

É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
Poema de Eugénio Andrade.


Ele fez ontem 82 anos. Para ele as quatro coisas mais importantes na vida são: a terra, o sol, o vento e o amor. Eu quis ilustrar como é que ele via uma dessas coisas, o amor.

quarta-feira, janeiro 19, 2005

Por uma Grande Causa,

Portugal! A realização de vários debates televisivos, com pessoas notáveis da sociedade cívil e antigos lideres políticos, consciencializa a nação do seu verdadeiro estado. Esta mobilização é simbólica, mas significativa daquilo que o resto da população portuguesa tem que fazer para contribuir e acreditar que é necessário os esforços de todos nós, para sair deste periodo conturbado.
Até agora existiam apenas interesses corporativos. Neste momento, após mobilização geral de figuras relevantes da sociedade portuguesas chegou-se à conclusão que a verdadeira causa é a de salvar Portugal e não interesses mesquinhos de diferentes fracções partidárias, ou lobbies económicos. Agora esperemos que os portugueses se sintam motivados para ao grande acto cívico que é exercer o seu direito de voto. Este acto é um primeiro passo para as coisas mudarem.

segunda-feira, janeiro 17, 2005

Caridadezinha

A última coisa que as vitimas do tsunami precisam é de espectáculos grandiosos de caridade que mais não são do que golpes de publicidade e de auto-promoção. Toda a encenação da selecção portuguesa com a ajuda ao rapaz que sobreviveu com a camisola portuguesa chega a ser constrangedora quando se pensa nos milhares ou milhões de pessoas que ficaram sem nada. Agora parece que também o Figo quer participar nesta gloriosa obra de ajudar o tal menino. Estamos no mero domínio do show-off, do encher o próprio ego e vender imagem.

E que tal deixarmo-nos de caridadezinha barata?

sábado, janeiro 15, 2005

Mudança de Regime

Os círculos uninominais têm, no entanto, o problema de estar num dos extremos do trade-off enunciado entre proporcionalidade e accountability. Podemos olhar para o Reino Unido, ou as eleições para o senado dos EUA, e é perfeitamente possível um partido ter 10% ou mesmo 15% de intenções de voto a nível nacional e não eleger qualquer deputado, desde que esses votos não estejam concentrados em zonas em particular. Em Portugal isso equivaleria, como que por de decreto, a eliminar de imediato qualquer partido que não o PS ou PSD.

A ideia dos círculos uninominais deveria portanto ser, no mínimo, moderada por um qualquer outro mecanismo. A ideia de haver depois um círculo nacional a equilibrar, por exemplo com cerca de 50 lugares, é a que tem sido sugerida entre nós, e faz todo o sentido. Por um lado, o patamar de acesso à representação parlamentar ficaria por volta dos 2%, o que é razoável. E, por outro, existem várias figuras no parlamento e na vida publica em geral que têm uma dimensão marcadamente nacional.

Estas são apenas algumas ideias que penso que ajudariam a termos um parlamento com mais sentido crítico e maior credibilidade na acção política. Provavelmente capaz de exercer boa parte do tal poder de moderação que é agora exercido pelo Presidente da Républica. A meu ver haveria ainda muito mais a mudar no regime, mas este já seria um passo bem grande no bom caminho.

quarta-feira, janeiro 12, 2005

Mudança de Regime - Accountability

A escolha não deveria ser colocada entre um sistema mais ou menos proporcional, pois a proporcionalidade é à partida um bem em si mesmo, no sentido de não tornar os votos de uns mais importantes que o de outros. A escolha a fazer, na minha opinião, é entre um sistema mais proporcional, e outro em que a escolha do eleito pelo eleitor fosse o mais directa possível e houvesse uma verdadeira accountability.

O grande problema do nosso parlamento é a falta de autonomia e liberdade dos deputados que estão no parlamento, e a culpa não é apenas deles, mas do sistema em si. Neste momento os deputados são eleitos em listas por cada distrito, e quem define a sua posição nas listas são os partidos. Isto é, é em primeiro lugar aos partidos que os deputados devem o seu lugar, e é logo ai que existe um dever de fidelidade e que começa o seguidismo. Pode-se argumentar que não, porque as pessoas votam é nas listas apresentadas, e o facto de lá estar o nome tal também ajuda ou piora. Mas sabemos que na prática ninguém sabe (nem quer saber!) quais os deputados que os representam num dado distrito. As pessoas votam é nos candidatos a primeiro-ministro, ou no partido, mas raramente o candidato em concreto no distrito tem qualquer influência na decisão. É um fenómeno estudado e provado, que se pode demonstrar por exemplo na forma como os partidos sobem e descem de forma quase homogénea nos vários distritos, de eleição para eleição, independentemente dos candidatos em concreto que vão surgindo por um ou outro distrito. Não existe verdadeira accountability entre os deputados e seus eleitores, o que é um elemento fundamental em qualquer regime democrático.

Uma das soluções (em Portugal é quase um D. Sebastião da questão por tanto se falar e nunca aparecer) são os círculos uninominais. Num sistema eleitoral desse tipo cada região ou zona elegeria o seu deputado em particular, que teria de prestar contas pelo seu trabalho durante a legislatura, e ser avaliado por ele nas eleições seguintes. A proximidade entre eleito e eleitor seria incomparavelmente maior, e o deputado teria aí sim as condições para poder ter assumir posição própria sobre os problemas. Isto não significa que deixe de haver fidelidade partidária, que é também ela essencial para haver alguma estabilidade no regime. Mas, imaginando que um governo tinha alguma ideia absurda, ou começava a ter uma actuação errática, num parlamento deste tipo seria muito mais fácil haverem deputados que simplesmente se recusavam a apoiar as medidas, mais que não seja por terem noção que depois iam ter de responder directamente ao seu eleitorado pelas suas posições. No nosso sistema, uma vez conseguida a maioria absoluta (quer de um quer de mais partidos), fica a sensação que quase qualquer medida passa no parlamento, tal o adormecimento e resignação em que os deputados se encontram. (continua)

sábado, janeiro 08, 2005

Mudança de Regime - Maiorias Absolutas

As declarações de Sampaio sobre as maiorias absolutas são antes de mais inoportunas. São feitas em pleno processo eleitoral e num contexto em que poderiam até ser interpretadas como apoio ao PS. Acredito que não haja essa intenção, mas não deixam de ser declarações feitas num momento despropositado. Ainda assim são legítimas, e Sampaio está longe de ser o primeiro a defender a ideia de um regime que facilite a obtenção de maiorias absolutas. Vale a pena pensar um pouco sobre o assunto, porque a meu ver a questão está a ser posta de uma forma completamente errada.

Em primeiro lugar este favorecimento das maiorias absolutas é um eufemismo para dizer que o parlamento não deve ter tenta preocupação em espelhar a escolha popular. Isto é, considera-se negativo ter um parlamento que espelha o voto popular, e desejável um que o distorçe no sentido de favorecer os maiores partidos e eliminar os pequenos. Em certos regimes, como no RU, isto pode significar um partido ter 10% dos votos e não conseguir qualquer representação parlamentar! É este o trade-off que temos de fazer, entre representatividade e supostas desejabilidades.

Ao olharmos para os tempos que passaram, vemos que as pessoas através da sua escolha têm o poder de atribuir ou não a maioria absoluta ao partido mais votado, que já o fizeram quando o entenderam, e que nos casos em que ela não existiu não veio nenhum mal ao mundo. A coligação PSD/PP veio provar isso mesmo, e não vejo qualquer mal maior no país (e não são poucos) que possa ser imputado à dificuldade de obter maiorias. Se é esta a escolha, então o que o Presidente propõe é um caminho errado. (continua)

Dever de ajuda

Sobre os programas para angariar fundos para as vítimas do maremoto, é errado colocar as coisas entre ajudar os outros ou os nossos. Além do mais, é sempre positivo ver a sociedade civil a mobilizar-se por este tipo de causas e saber assumi-las também por si.

É uma pena, isso sim, que desastres e calamidades como os massacres no Sudão, o genocídio no Rwanda, e tantos outros episódios tristes dos nossos tempos não tenham encontrado a devida atenção da comunidade internacional. Nesses casos, alguns incomparavelmente mais graves que o presente, o olhar dos media (sempre o factor fundamental, embora selectivo e por vezes mesmo errático) e o consequente ganhar de consciências das sociedades ocidentais ocorreu tarde demais, quando o pior já tinha acontecido. É esses casos que temos de lamentar, e prevenir.

sexta-feira, janeiro 07, 2005

Renascer

o programa para angariar fundos para ajudar as vítimas do maremoto tem mérito. Pena é que a rádio televisão portuguesa, assim como as personalidades que se juntaram para promover esta acção, nunca se tenham lembrado de colectar fundos para as necessidades existentes no nosso pais.
Porque não sensibilizar os portugueses para a investigação na luta contra a sida, o cancro, para os incêndios dos dois verões consecutivos e colectar fundos para essas causas e tantas outras. Para as instituições de solidariedade social que também precisam, visto que contribuem para minorar as dificuldades dos ques mais sofrem e que, muitas vezes, as suas acções ficam muitas vezes na sombra. Ao mostrar as acções ao nível local, regional e nacional feitas por essas instituições e ao angariamos fundos ou pessoas para darem um pouco do seu tempo com trabalho de voluntariado, provavelmente ajudariamos as instituições e o pais em geral.
Não é só ajudar o exterior, nos também estamos a precisar todos de uma ajuda colectiva para ajudar a nossa nação a "Renascer", do desânimo, da crise política e económica. Ajudar os outros sim! Nós só nos lembramos de ajudar os outros e nunca a nós próprios. Por isso, lanço a ideia, de que na próxima vez, se promova um programa do mesmo género, mas para uma causa bem nossa, Portugal também precisa!

terça-feira, janeiro 04, 2005

Lamentável

A forma como Rui Rio tem lidado com o FCP, de separar o futebol e a política, e como tem sabido enfrentar toda a contestação, é um exemplo raro (quase único) que devia ser seguido por muitos outros políticos. A declaração de combate do Pinto da Costa só vem provar o quão correcta é a luta de Rui Rio. O PS, como seria de esperar, não perdeu tempo a apanhar a boleia.

Neste contexto, o convite feito por Santana Lopes a Pôncio Monteiro para a lista do Porto é tudo menos inocente, e tem o significado óbvio de colocar em causa tudo o que Rui Rio tem defendido e representado. Eis mais uma atitude infeliz e que diz muito sobre a pessoa do primeiro-ministro. É triste o que o vislumbrar dos votos de alguns adeptos mais acérrimos consegue fazer...

domingo, janeiro 02, 2005

A discordância

Entre o que se pensa e o que se faz é frequente! A discordância vive-se quando se pensa e tem vontade de fazer alguma coisa, e depois acabamos por fazer outra completamente diferente. Nunca vos terá acontecido ter vontade de comer uma maça e depois acabar por comer uma laranja? Não faltarão razões e justificações para tal fenómeno. Perante esta discordância o sentimento de insatisfação e de vazio invade-nos, porque não respeitamos o que realmente queríamos fazer.

Ou então, nunca vos sucedeu ter vontade de estar ou fazer alguma coisa com alguém, mas por orgulho ou receio de ouvir um "não", nem sequer dizemos o que realmente queremos? E acabamos, outra vez, com o sentimento de insatisfação e frustração. E tudo isso porque faltamos à verdade a nós próprios e para com aquele com quem queríamos partilhar, o tão desejado.

A discordância às vezes é sentida através uma sensação desagradável, outras vezes é consciencializada, e ai culpabilizamo-nos, criando assim um sentimento de angústia e tristeza. A discordância só existe porque não ajustamos o pensamento à vontade real do coração, à concretização final do desejo. E cada um de nós sabe no seu intimo porque é que existe essa discordância, para uns é o medo da não-aceitação, para outros a falta de auto-afirmação…

Esquecemos muitas vezes que a liberdade de escolha e de decisão só a nós pertence e cada um é responsável pela concretização dos seus desejos e pela harmonia entre o pensar e o fazer.