quarta-feira, novembro 17, 2004

Politica, opinião, liberdade

1. Alguma coisa deve estar mal quando se consegue sentir tão bem a incomodidade que existe nalguns sectores do PSD, e depois há no congresso um unanimismo quase total. Sim, os partidos são máquinas que buscam o poder. E sim, está na sua natureza saber ser extremamente racionais quando se trata de preservar esse poder. Tudo isso é natural, mas por outro lado qual é então o sentido de haver um congresso, se não é nele que se consegue travar o verdadeiro debate dentro do PSD?

2. Sejam as portagens, o estabelecimento ou não de uma comissão de inquérito sobre um qualquer tema, o referendo à constituição europeia, seja sobre lá o que for, conseguem-se contar pelos dedos os casos em que algum deputado de um partido vota contra a sua bancada.

3. Nós sabemos que este governo fez uma inversão de rumo (não está aqui em causa se boa ou má), e que poderia até voltar a fazer as que quisesse, que muito dificilmente deixaria de ter garantido o apoio parlamentar. Será que assim podemos ainda querer ver o parlamento como um verdadeiro "controlador" da acção governativa?


Este não é um problema do PSD, obviamente. São apenas dois exemplos, para mostrar porque acho que em geral a lógica partidária e o seu funcionamento explicam muito do desinteresse pela causa pública, e da excassez de pessoas com qualidade dispostas a dedicar-se a ela. Essencialmente por ser uma lógica castradora da liberdade e autonomia de pensamento, da criatividade e individualidade de cada um, ou que pelo menos subordina esses valores ao serviço dos objectivos do partido. Sendo realista, faz sentido que as coisas funcionem dessa forma, mas em Portugal a fidelidade partidária é levada a um limite que subverte o próprio sistema político, e o papel que devia ser e não desempenhado pelo parlamento.

E quantos estão dispostos a sacrificar a liberdade de julgar aquilo em que sobre um ou outro assunto acredita e julga ser o melhor para o país, a bem do objectivo do partido? Podemos achar que serão mais ou menos, mas são certamente os melhores aqueles que menos estão dispostos a sacrificar essa sua liberdade. E o facto é que os partidos são o meio mais importante que os cidadãos têm de chegar à política e ao exercício de cargos políticos, e esta lógica de funcionamento partidário que é cultivada, de seguidismo e falta de independência das pessoas, consegue de facto empobrecer a vida política.

Que diferença poder ouvir um José Pacheco Pereira, um Manuel Alegre ou um António Barreto, quando estamos habituados às marionetas e yes-man's do costume, que antes de abrirem a boca já nós sabemos quem e o que vão defender!

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