sexta-feira, setembro 30, 2005

Onde pára a Justiça!

Pelos visto a suposta “Justiça”, ou pelo menos aqueles que trabalham para que ela se faça andam na rua. A gritar pelas “injustiças” de que pensam serem vitimas. Agora pergunto eu, porque é que os funcionários judiciais e os magistrados, nunca vieram para a rua pedir melhor Justiça? Por melhores condições de trabalho, para assim serem mais rápidos no despacho de processos. Tem graça não me recordo de nenhuma acção nesse sentido! Só se lembraram de vir pedir melhor Justiça, porque se acham, injustiçados. No entanto, esquecem-se de todos aqueles que são injustiçados quotidianamente pelos atrasos e erros cometidos por eles quotidianamente.

A Justiça está a ser feita pelo governo ao aplicar as mesmas medidas legislativas para todos os funcionários públicos, relativamente ao sistema de saúde. Mostrem um bom trabalho e sejam justos para com os cidadãos, pois eles merecem funcionários competentes e dedicados. E não me venha o Bloco de Esquerda ou o PCP condenarem a requisição civil. Afinal, os partidos que lutam pela justiça social e igualdade são eles! Onde é que há igualdade em os magistrados e os funcionários judiciais terem um sistema de saúde dez vezes melhores do que o sistema nacional e pago pelo Zé povinho! Por vezes os partidos de oposição tomam a atitude de "parler pour ne rien dire!"

terça-feira, setembro 20, 2005

Pormenor

Ao ouvir e ler as análises aos resultados, tanto em portugal como na imprensa estrangeira, acho estranho que praticamente se ignore aquilo que é a leitura dos resultados. É um facto que acabaram por ser os piores possíveis, mas acho estranho que se possa falar como se não tivesse havido um vencedor. Colocando de parte o partido de esquerda, com o qual durante a campanha todos excluiram a possibilidade de entendimento, foi a oposição que ganhou as eleições. O SPD teve menos votos e mandatos que a CDU/CSU, e o aliado natural do SPD (Verdes) teve menos votos e mandatos que o aliado natural dos conservadores (FdP).

Deve ser analisado o motivo para a vitória da CDU/CSU ter sido tão minima, o que revela a incapacidade de Angela Merkel de mobilizar os descontentes com o governo, mas que ganhou é um facto. Como é possível que Schroeder tenha vindo proclamar-se como vencedor e afirmar que lia nos resultados a vontade dos eleitores de que ele continue como Chanceler? A haver uma coligação CDU/CSU-SPD, que sentido poderia haver em que fosse Schroeder o escolhido para a liderar? E, a haver uma colição entre um "grande" e os verdes e liberais, que sentido poderia haver em que fosse o SPD, e não a CDU/CSU, a protagonizá-la?

É verdade que, em termos de aritmética parlamentar, os dois principais partidos estão exactamente na mesma posição de força negocial. Mas essa aritmética adveio da expressão da vontade popular, através do voto, e nesse houve um vencedor. É um pormenor que não devia ser esquecido na procura da solução.

Elites precisam-se

Le Dormeur du Val

C’est un trou de verdure où chante une rivière
Accrochant follement aux herbes des haillons
D’argent ; o`le soleil, de la montagne fière,
Luit : c’est un petit val qui mousse de rayons.

Un soldat jeune, bouche ouverte, tête nue,
Et la nuque baignant dans le frais cresson bleu,
Dort ; il est étendu dans l’herbe, sous la nue, Pâle dans son lit vert où la lumière pleut.

Les pieds dans les glaïeuls, il dort. Souriant comme
Sourirait un enfant malade, il fait un somme :
Nature, berce-le chaudement : il a froid.

Les parfums ne font pas frissonner sa narine;
Il dort dans le soleil, la main sur sa poitrine
Tranquille. Il a deux trous rouges au côté droit.

Octobre 1870
Arthur Rimbaud

Ao ler uma antologia de poemas de Arthur Rimbaud encontrei este poema que eu declamei com oito anos na minha turma da escola francesa do ensino oficial. Um sentimento de saudosismos e de tomada de consciência fez com que realiza-se a dimensão da exigência do ensino em França. É inevitável a comparação com o sistema de ensino português, não posso deixar de pensar nas falhas gravíssimas do nosso ensino. Não é com o ensino do inglês, no ensino básico, que se melhor a qualidade do ensino em Portugal. É preciso bases viáveis, é preciso dar cultura geral aos portugueses desde muito pequenos. Se os pais não lêem poesia, literatura então a Escola “como instituição” tem que ter na sua programação a leitura de obra literárias portuguesas e estrangeiras obrigatórias. Quantos “doutores” andam ai a circular pelos ministérios, empresas e instituições que nunca pegaram num livro de poesia ou conhecem um número razoáveis de escritores portugueses e estrangeiros. A cultura técnica dada pelas Universidades não chega para fazer elites intelectuais em Portugal.

sexta-feira, setembro 16, 2005

O problema da escolha em Lisboa

Não esperava que o debate de ontem entre Carmona e Carrilho pudesse ter descido tão baixo. Sobre Carrilho tinha algumas ideias superficiais, mas este campanha tem vindo para mim a revela-lo como uma pessoa simplesmente detestável. Aquele estilo que adopta nos debates e na campanha, arruaceiro, truculento, populista, de comício, é tudo menos aquilo que se poderia esperar de um suposto "intelectual". E aquele sorriso arrogante e convencido após as intervenções brilhantes... está claro que esta não é uma questão pessoal, mas apesar de tudo também se trata de uma escolha de pessoas. E tudo quanto são as propostas e ideias apresentadas têm a ver com este estilo adoptado. A promessa de reduzir para metade os carros em lisboa durante os próximos 4 anos fala por si...

Carmona tem conseguido transmitir a ideia de ser uma pessoa aprazível, simpática, séria. Mas duvido que este debate, a forma como se exaltou e no fundo "baixou ao nível", venha jogar a favor deste seu quase único trunfo. Não tem sabido conduzir campanha, é uma pessoa fraca e que não transmite segurança sobre os dossiers e a obra feita.

Basicamente há aqui um problema que emergiu de imediato com a decisão de Marques Mendes de afastar Santana Lopes da corrida. Gostemos ou não do que foi feito, quem está em julgamento é Santana Lopes, e seria ele o candidato natural. Ninguém melhor que ele poderia defender aquilo que foi a obra destes últimos 4 anos, das opções feitas, dos caminhos escolhidos. Além da questão da sua experiência e peso político e eleitoral, foi ele que protagonizou o projecto que venceu e, logo, deveria ser ele a defende-lo e continua-lo. Caso o PSD entendesse que o projecto não merecia a confiança do partido, então que fosse escolhida uma nova pessoa. Agora vir escolher um número dois, alguém que esteve na sombra, que deve a sua entrada na câmara a Santana Lopes, e que com ele trabalhou, colaborou e foi cúmplice durante estes 4 anos... é como escolher o pior das duas opções. Nem politicamente se compreende a decisão. Se Carmona ganhar, foi o projecto iniciado por Santana que passou nas urnas. Se Carmona perder, cenário mais provável, a responsabilidade será de Marques Mendes. (continua)

quarta-feira, setembro 14, 2005

Regresso às aulas

Significa para muitos pais abrirem os cordões à bolsa e de que maneira. Num país em que os salários são baixos relativamente ao custo de vida, há que pensar em estratégias para minorar as despesas das famílias com crianças em idade escolar. Uma das medidas inteligentes é a Escola conjuntamente com associação de pais adoptarem durante um período de 5 anos os mesmos manuais escolares. Desta forma, a escola poderia adquirir os livros e emprestar os livros aos alunos mediante uma caução de entrega de novo no final do ano, em bom estado. Este sistema deveria ser feito até ao 9ºano. Pensem no benefício para os pais e alunos, e sobretudo para os mais carenciados. Com esta medida há a possibilidade dos pais investirem o dinheiro dos livros nas muitas actividades extra-escolares como o inglês, desporto, musica …, para os seus filhos e contribuírem para uma melhor formação.

Acabemos com os “lobings” das editoras que só prejudicam o país. Se a paixão tem que ser a educação, então mobilizem-se os pais, professores, e entidades competentes, autarquias e políticos para reclamarem juntos das editoras soluções para livros mais baratos e de melhor qualidade pedagógica. A sociedade civil tem que ser mais activa não é queixar-se e não fazer nada!

quinta-feira, setembro 08, 2005

Anti-americanismo primário

"O Katrina, para quem gosta de interpretações mais cabalísticas destas coisas, será um sinal de Deus aos americanos para que começam a olhar para o que se passa dentro das suas fronteiras, esquecendo por um bocado os seus ímpetos militaristas no exterior. Mas como vivemos dentro dos parâmetros do racional cartesiano, o Katrina foi, quanto mais não seja, uma terrível catástrofe natural que nos fez olhar de outra forma para os Estados Unidos da América e descobrir que por debaixo de uma fina máscara de modernidade e até de algum «glamour», está apenas um país de pobres e ao nível do que pior se encontra no Terceiro Mundo. Bye bye, América. O mundo merece outros donos."
José Diogo Madeira, no Jornal de Negócios de 07.09.2005. (Retirado do Abrupto).

quarta-feira, setembro 07, 2005

Património

Aqui há uns anos houve um episódio que me ficou gravado. Com o lançamento do filme Branca de Neve, realizado por João César Monteiro(entretanto falecido), houve alguma polémica por o ministério da cultura o ter apoiado em largos milhares de contos, e o filme na sua maior parte passar sem imagens. Apenas vozes. A certa altura, quando questionado sobre a questão, e sobre a capacidade que o filme teria de atrair público, o realizador deu a resposta que tinha pronta: "Eu quero que o público se foda!".

É esta a mentalidade de muitos dos agentes culturais em portugal. Criam e realizam em função do seu ego, do seu circulo social mais chegado, e o resto que se lixe. Afinal, a arte não é para o povo...! E o estado que pague, e não faz mais que a sua obrigação!

A fonte que vêm, com o lago neste bonito estado, pode ser encontrada nos jardins do Palácio de Queluz, junto com outras demonstrações da incúria com que estes têm sido tratados e preservados. Será que os dinheiros que são gastos na cultura a patrocinar toda uma série de actividades culturais que são feitas de costas viradas para o interesse do público, não seriam melhor aplicados na preservação do património que temos espalhado pelo país?