quarta-feira, dezembro 31, 2003

Boas entradas!

Desejos de uma boa passagem de ano e um 2004 a correr bem, para os leitores do Ilha Perdida e para os outros.
E, já agora, que o Ilha Perdida continue entre nós para o ano.

quarta-feira, dezembro 24, 2003

Feliz Natal!

Desde criança que o Natal me faz pensar naqueles que não o podem ou não têm razões para o festejar, da mesma forma que os solteiros assistem ao dia dos namorados. O Natal é a época mais feliz do ano, mas só para alguns.

domingo, dezembro 21, 2003

O Regresso do Rei

Como fã do Senhor dos Anéis, e depois de ter visto o terceiro filme, fiquei suficientemente desiludido para fazer aqui uns quantos comentários.
Se os 3 filmes foram feitos ao mesmo tempo, não se pode dizer que isso dê para notar, pelo contrário. O primeiro filme está muito bem elaborado, é fiel à história e interessante de se ver. Com toda a espectativa gerada, e a exigência natural de quem leu os livros e é fã da saga, conseguiu corresponder. Não se limita a ser comercial e tem uma preocupação de qualidade.
No "As Duas Torres", a coisa começa a mudar um pouco. Tornou-se mais comercial, não se limitou a cortar pedaços do livro e achou por bem mudar outros, para tornar alguns acontecimentos mais espectaculares ou "video friendly". Continua a ser bom, ainda que pior que o primeiro para os fãs, melhor para o resto do público.
Em "O Regresso do Rei" é o descalabro. Cortaram-se partes da história sem que o tempo que ficou, e foram mais de 3 horas, tenha sido bem aproveitado. É o único dos três que consegue parecer longo demais, e no final do filme chegou-se mesmo a sentir alguma agitação e impaciência na sala de cinema. Falta ritmo a história, e essa falta de ritmo nem se pode justificar por querer ser fiel ao livro, que não foi o caso relativamente aos dois primeiros.

Sim, se calhar era eu que estava sem disposição por ter dormido pouco. Ou, talvez mais importante, foi um problema de espectativas demasiado elevadas. De qualquer forma, e tinha perfeita noção antes de ir ao cinema, o terceiro livro é sem dúvida e de longe o mais díficil de passar para filme, e isso ainda aumentou mais a espectativa. Fiquei um pouquinho desiludido.

sábado, dezembro 20, 2003

O costume

Não, este blog não está numa crise existencial. É mesmo uma questão de falta de tempo.

Ter feito o Ilha Perdida sozinho em vez de em conjunto com outras pessoas foi mais uma questão de oportunidade que de opção. As consequências, já imaginava na altura, são algumas. Os espaços de tempo vazios, por exemplo. Umas vezes por falta de tempo. Outras por falta de vontade. Já para não falar de quando o problema é mesmo falta de assunto, ou sentir que o que tenho a dizer foi dito melhor por outros, e não ha muito a acrescentar.
Por outro lado, e cada vez tenho vindo a sentir mais isso, traz um problema de diversidade e empobrecimento. Um blog com duas, três, quatro pessoas, teria a partida mais temas abordados, dinâmica, polémica. Em suma, mais interesse, da mesma forma que é mais interessante assistir a um diálogo que a um monólogo.

domingo, dezembro 14, 2003

Falácias iraquianas

Queria comentar o texto de um amigo meu, disponível aqui, mas que transcrevo integralmente para não correr o risco de fazer citações fora do contexto. Este texto é interessante porque representa muito do sentimento europeu em relação a Guerra no Iraque, e apoia-se em muito dos mitos e falácias que vemos discorrer por muitos.

"Já ando a pensar em escrever sobre a situação do Iraque à alguns dias, mas é
tal a complexidade do assunto que me tenho vindo a retrair de o fazer, não
querendo ser absolutista nem nada que o parece aqui vão algumas questões que me andam a perseguir já á algum tempo.

Porque se considera os iraquianos que andam a matar os americanos de pistoleiros, assassinos e terroristas e se defendiam os valentes timorenses? Vistas bem as coisas não serão os fundamentos da resistência de uns e de outros os mesmos? Os timorenses lutavam pela sua independência e os iraquianos lutam pelo seu território que foi invadido por estranhos á força, não será normal que eles se revoltem contra essas mesmas pessoas?"


Eles quem? Estas a tentar dizer-me que quem leva a cabo os atentados terroristas é o cidadão comum iraquiano revoltado com a usurpação do regime?
A comparação com os timorenses não vou comentar. Devias consultar algumas sondagens feitas no Iraque pós “ocupação”, que são sem dúvida a melhor aproximação possível ao sentimento da população iraquiana, e trazem resultados surpreendentes para muitos dos que se arrogam a incarnação dos interesses iraquianos contra a ocupação americana. Revelam, por exemplo, que aquelas personagens que aparecem nas TV´s a corroborar a tua interpretação da realidade, nem sempre representam o sentimento maioritário.

"Depois há a guerra da comunicação e nesse aspecto penso que nós (Europa e
América) estamos tão limitados como os iraquianos, lembro-me de ver vezes sem
conta aquela imagem da estatua do Saddam a ser derrubada. Será que se os iraquianos estivessem assim tão contentes pela vinda dos americanos (os salvadores) estaríamos agora a ver todos os dias mais e mais mortos do lado dos americanos? A mim parece-me claro que foi uma estratégia para tentar calar as vozes que se levantavam contra a invasão do Iraque, como a dizerem-nos "vêem como eles estão todos contentes em nós termos vindo cá salva-los das garras do terrível ditador!!"

Lembro-me de ouvir um jornalista português a dizer que as populações como viam que nada podiam fazer quanto ao avanço das tropas americanas tentavam ao menos receber alguma comida que eles trouxessem, ao seja, seguiam o velho ditado, "se
não consegues vencê-los junta-te a eles.""


Que dados te permitem dizer que durante a invasão, em zona alguma do Iraque, se fez sentir o mais pequeno levantamento popular em defesa do regime ou contra a chegada americana? Ou pelo menos que essa vontade existia, para ter de ser refreada?

"Outra coisa que me deixa a pensar é quando ouso o senhor Bush, é que este
senhor parece que se acha mesmo o modelador do mundo, para este senhor todas as culturas devem seguir os padrões da sociedade americana, e se assim não for já são terroristas e coisas que tais, ou esta guerra não foi se não uma guerra de culturas? Armas nucleares, químicas ou biológicas ninguém viu, são os próprios peritos da ONU que estavam no Iraque os primeiros a dizer que não havia provas nenhumas como elas existiam.

Ouvi o senhor Colin Powel dizer que se os iraquianos não tinham armas de destruição maciça que o provassem, pergunto eu, como se prova isso?!! E se há alguém que tinha de provar alguma coisa esse alguém não seriam os EUA?!!"


Os peritos da ONU disseram que não havia prova da existência de armas de destruição massiça. Outra coisa que disseram, unanimemente, é que nunca o Iraque mostrou verdadeira colaboração para demonstrar que não as tinha. Será uma coisa absurda de se exigir?

"Lembro-me de ouvir uma menina árabe numa entrevista a dizer que eles não queriam a nossa liberdade, que essa liberdade só iriam trazer coisas más como a prostituição. Porque não deixamos que cada cultura cresça e se transforme pela sua própria vontade e iniciativa ? Ou será que nós portugueses teríamos gostado que alguém tivesse vindo cá a Portugal tirar o Salazar do poder?"

Repito a pergunta, acreditas que esse é o sentimento do cidadão comum iraquiano?
Acho que estas a fazer uma confusão enorme com valores importantes. De qualquer forma, se ha quem defenda a "liberdade" que exista no Iraque, também é verdade que o faz porque a liberdade trazida pelos "imperialistas americanos" lho permite.

Finalmente...

A captura de Saddam Hussein é uma vitória americana, a ser partilhada por todos, e pelos iraquianos em particular. Pelos nossos lados os sorrisos sinceros confundem-se com os forçados. Até tivemos direito a mais umas barbaridades da Ana Gomes. Nada a estranhar.

sábado, dezembro 13, 2003

Ainda falam de nós

A propósito da Constituição Europeia, Berlusconi garante "que as negociações não se podiam estender para além do meio-dia de domingo para que pudesse ver o jogo da Taça Intercontinental entre o AC Milan e o Boca Juniors."

quinta-feira, dezembro 11, 2003

A UE vista daqui

Dia após dia, assistimos ao aumentar da pressão por parte dos países grandes para fazer passar a Constituição Europeia. Dia após dia, assistimos aos avisos, à Polónia e à Espanha, das consequências que poderão acarretar no caso de votar o processo ao falhanço. Dia após dia, assistimos a esta corrida desenfreada de quem parece ter medo de parar um pouco para pensar e tomar o pulso ao que os europeus realmente acham do caminho que a União Europeia começa a seguir.
Assistimos, sem sequer fazer grande questão de participar.

segunda-feira, dezembro 08, 2003

Informação e opinião

Um post e outro muito interessante em O País Relativo, também referidos no Santa Ignorancia.

Este é uma tema geralmente abordado, e bem, pelo JPP, que devia preocupar a todos. Hoje em dia, quem tenha tido o mínimo contacto com actividade política ou de outra espécie, percebe que apenas existe aquilo que passa nos media. Os meios de informação têm, logo a partida, esse poder enorme de escolher quais as notícias que se justifica ou não serem passadas ao público, e qual o relevo que lhes deve ser dado. A concorrência entre os meios de informação e a lógica destes em seleccionar o tipo de notícias que mais captam a atenção do público, será provavelmente o critério de escolha. Mas nem sempre é assim, como é fácil de ver em certas situações. Os jornalistas têm, de facto, o poder de influenciar decisivamente a percepção que com que as pessoas ficam do que se passa.

Não quero resumir o meu comentário à esperteza saloia das bocas que a Manuela Moura Guedes faz questão de acrescentar no final das reportagens, e que obviamente pretendem marcar a ideia com que ficamos do que foi apresentado. Ou aos recorrentes inquéritos de rua, como refere o Santa Ignorância, em que o jornalista escolhe aquilo que supostamente pensam os portugueses. Nem tão pouco se resume à confusão entre comentário/opinião, por parte de comentadores que até são claramente comprometidos politicamente, como Santana Lopes ou José Socrates. Mais grave é quando as reportagens e as peças jornalísticas em si são direccionadas politicamente, e o fazem sob a capa da "imparcialidade" e da "verdade pura e crua" facultada a todos nós.

Antes de mais, a ideia da informação pura, absolutamente desinteressada e imparcial, é uma ilusão. Como refere O País Relativo, "Para que chegue a merecer o nome, a actividade de informar implica sempre intermediação; ela supõe sempre um exercício de escolha, depuração, confronto de versões, cruzamento de fontes e – também – o comentário plural"... "A ideia de que a «informação» é a transmissão em directo e não-mediada da «realidade» é um crasso erro epistemológico e uma perigosa fonte de demagogia política".
Como se pode explicar que existam jornais mais ou menos afectos ao governo? Que a cobertura da Guerra no Iraque seja tão díspare conforme feita pela imprensa de um ou outro país, mesmo que esta seja livre em qualquer deles? Para dar um exemplo mais nacional, como entender que quando Vilarinho se candidatou contra Vale e Azevedo, este surgisse como um vilão na TVI que disparava escandalos de dia para dia, e uma vítima na SIC?

É uma pena que a classe dos jornalistas, que tudo discute, seja incapaz de se discutir a si própria. Toda e qualquer crítica é respondida com o fantasma da ameaça a liberdade de imprensa e de informação. Mas o jornalismo também deve ser discutido. Quando um jornal ou uma televisão tem um dirreccionamento político, isso é legítimo, mas deve ser assumido perante o público. E as posições defendidas devem ser assumidas como posições, e não como informação. É o que acontece, para dar um exemplo, com a revista The Economist. A revista assume que foi a favor na intervenção do Iraque, ou da Globalização, ou do liberalismo político. E estas tomadas de posição não retiram força ou credibilidade às suas reportagens, ensaios e olhares da realidade. É uma questão de informar de uma determinada perspectiva das coisas, sem usar a capa da imparcialidade de que se esta apenas, pura e simplesmente, a informar.

quarta-feira, dezembro 03, 2003

Soluções fáceis

Tenho acompanhado com interesse a discussão entre o Comprometido Espectador, o Barnabé e o Complot. Em geral concordo com o Luciano Amaral, e tenho a mesma posição que ele sobre o assunto.

Em primeiro lugar, concordo que a questão fundamental é saber a partir de que momento podemos considerar que existe uma vida humana. À partida, não vejo nenhum argumento forte para não considerar que o feto é uma vida humana desde a concepção. Sendo assim, não é razoável que a lei entregue a uma das partes (a mãe) o direito a decidir livremente sobre a outra, que é a mais desprotegida. Podem-me dizer que a lei condicionaria o direito a abortar à verificação de certas condições sócio-económicas, etc, etc, mas sabemos que isso na pratica significa a liberdade de fazer um aborto.

O apoio que as "visões liberais" sobre este tipo de assuntos têm na sociedade, que é claramente maioritário nas pessoas mais novas, tem muito a ver com o facilitismo e leviandade com que se olham os problemas e se esquecem questões fundamentais, a bem do pragmatismo e da conveniência de ignorar verdades incómodas.
Se é isto a "nova direita", prefiro a "velha".

Mais uma intervenção brilhante...

...do nosso Presidente da Républica. Ultimamente têm saido coisas como esta, ou a recente e iluminada comparação com Espanha para criticar um suposto excesso de revisões constitucionais em Portugal.
Sampaio ainda não percebeu que a capacidade que tem para falar sem dizer nada é exactamente a sua maior (unica?) qualidade como chefe de estado. Quando decide dizer alguma coisa, é o que se vê.