quarta-feira, junho 29, 2005

Preocupante

Mais do que critica ou preocupação por alguma manifestação que se tenha seguido, o que importa realmente é o acontecimento em si. O "arrastão" foi um fenómeno inédito em Portugal, e não deve nem pode ser menosprezado. Não acho que a Maria o tenha feito, mas o facto é que os exemplos dados para comparar são de uma dimensão (não falo de gravidade em si) completamente diferente de 100, 200, 300 (ou mais) individuos se juntarem e organizarem para fazer uma espécie de assalto geral a uma praia, em plena zona de Lisboa. Que ao acontecimento as pessoas reajam com medos e receios, com os seus instintos mais básicos, é perfeitamente natural que aconteça. Se não nos podemos sentir seguros de uma situação destas numa praia em Carcavelos, cheia de gente, então onde nos vamos poder sentir?

É bom que haja uma reflexão sobre o que aconteceu, e parece-me que, antes de mais, a policia e os serviços deviam questionar-se a si próprios e aos seus métodos.

Imperdível

O arrufo de ontem entre a Manuela Moura Guedes e o Miguel Sousa Tavares, a propósito das nomeações que se dão a cada mudança de governo. MMG, incapaz de reprimir os comentários constantes, representa o que de pior pode haver no "Zé Povinho". Ignorância, demagogia, egoismo, mesquinhez... uma tristeza.

sexta-feira, junho 17, 2005

Manifestação abusiva

Amanhã vai decorrer uma manifestação da Frente Nacional (pouco original é a copia do nome do partido Front National francês e das suas ideologias racistas), que está aproveita os acontecimentos do arrastão para divulgarem a sua propaganda perigosa. Ela é perigosa, porque no momento de fragilidade da população portuguesa devido ao desemprego e à pouca confiança na Europa, os mais carenciados podem ser facilmente manipulados. É muito fácil arranjar um bode expiatório para esconder os seus próprios fracassos. Não me venham cá dizer que é por causa dos imigrantes que os portugueses estão no desemprego! Isso é tretas! (desculpem-me a expressão). Se não fosse a mão-de-obra imigrante quem é que tinha construído a Expo 98, a Ponte Vasco da Gama, quem é que faria a limpeza das casas de banho dos centros comerciais, dos aeroportos e muito mais, são os pais desses jovens africanos que imigraram à 10 ou 15 anos para Portugal. Em Portugal, os portugueses preferem ir para a Suiça ou Reino Unido fazer trabalhos que os africanos e ucranianos se sujeitam, cá em Portugal.

Aqui, o que está em causa é a politica de integração da segunda e da terceira geração de filhos de imigrantes que já nasceram, em Portugal. Ninguém olha para eles como cidadãos que podem contribuir para um Portugal melhor! No resto da Europa situações bem mais graves acontecem só que não dão o alarido que fazem por cá. Nunca ouviram falar “des tournantes” em França, garanto que é muito mais assustador que são certa 10 a 15 miúdos entre os 12 e 20 anos que violam mulheres colectivamente, sejam do bairro ou do exterior! Essa é uma insegurança e um medo que paira muito mais sobre todos as mulheres e que causam danos muito mais irreparáveis que um roubo de praia.

Quero, no entanto, dizer que condeno e que considero que medidas têm que ser tomadas urgentemente. É necessário apoiar esses jovens mas também responsabilizá-los pelos seus actos. É necessário responsabilizar os pais pelos os miúdos que estão numa situação de inimputáveis. Os pais por trabalharem demasiado e muitas vezes demitindo-se das suas funções educativas por estas estarem fora do seu controle. É necessário que vários técnicos competentes ajudem os pais e os jovens na reeducação e ajustamentos dos comportamentos anti-sociais.

terça-feira, junho 07, 2005

Individualismo é uma forma de humanismo

Numa sociedade individualista pura, o indivíduo é apreciado por aquilo que é, pela sua unicidade. Aliás, ele é encorajado a revelar as suas qualidades mais genuínas e a sua diferença. Ele é apoiado a definir-se como ser especial, para que possa sentir-se único. Só que esta definição é apenas em função das suas qualidades pessoais.

Numa sociedade “semi-individualista” o indivíduo, ainda é muito estimado pela sua dimensão social (estatuto), pelos diplomas que tem, o carro que tem, as roupas que veste…Esta visão da sociedade transpõe-se para as relações humanas quotidianas, amizades, relações profissionais e amorosas. As relações são imbuídas de preconceitos, quer com o complexo de superioridade, quando não se é amigo daquele porque se veste de tal maneira, quer com de inferioridade, quando se tem medo de falar de forma natural com indivíduo depois de saber que ele tem 30 anos e é alto diplomata da ONU. Muitas vezes esquecemo-nos que por detrás dessas etiquetas sociais estão pessoas, no sentido lado da palavra. Pessoas, essas, que para além de fazerem coisas na vida, sentem, sofrem, amam e sonham como nós, independentemente do dinheiro que têm, do nível académico ou da maneira de vestir, andar, falar.

Nesta sociedade “semi-individualista” o indivíduo tem medo de se afirmar pelo que é. Então, arranja um (a)namorado(a), de acordo com os critérios e padrões que os amigos e família exigem, do que pelos seus. Ele tem um emprego e um carro conforme ao que permite o seu estatuto profissional e não em menor escala, senão o que vão dizer os outros. A questão está na defesa do seu ser pessoal pelas qualidades externas, portanto, sociais e não pessoais.

Na sociedade individualista o sujeito tenta ao máximo ser ele mesmo e tem para isso a ajuda das pessoas próximas dele. O individualismo é humanista porque defende à individualidade de cada um, e sobretudo o direito a essa individualidade independentemente dos padrões exigidos. O humanismo está em aceitar o outro pela sua dimensão pessoal, para além da dimensão social.

Em termos pessoais que me interessa numa relação de amizade que a pessoa seja empregada de limpeza ou tenha um “DR” o que me importa é que ela me aceita tal qual como eu sou, e mais ache interessante à minha personalidade. E sobretudo, quando eu preciso dela, ela se disponibilize para me ouvir, aconselhar e estar lá como amiga.

Nos momentos difíceis ou de grande alegria, não são os galões que aparecem, mas as qualidades humanas. Que me importa, que a pessoa seja um brilhante funcionário, se só se lembra que existo quando os amigos dos galões já não estão lá, para compreender o que de mais profundo existe em ti. O mais incrível é que nós temos a noção de quais são os amigos das aparências, só que não conseguimos dispensá-los porque vivemos num mundo do ter em vez de ser. Só o individualismo exige essa transição do ter para o ser num mundo de globalização em que as relações familiares e sociais se desmoronam facilmente, o emprego já não é para toda a vida e o diploma já não garante sucesso. O que resta é a criação de laços genuínos com pessoas que nos reconhecem pelo que somos e não o que temos.