quarta-feira, março 31, 2004

Ensaios de um cego

Nunca li um livro de Saramago (não refiro isto por me orgulhar do facto), no entanto parto do príncipio que seja um escritor com qualidades. Por isso mesmo, e pela relevância que soube conquistar, é importante não deixar passar em branco muitas das coisas que anda por aí a dizer.

Vem com aquelas teorias super interessantes, acarinhadas por tantos intelectuais de esquerda, sobre a necessidade de educarmos a sociedade, usando esta maravilha de frase: "A educação pressupõe a existência de um educando e de um educador. Esta sociedade não tem condições para nos dar lições". Curiosidade: seremos nós dignos que esta alma iluminada dispenda um pouco do seu escasso tempo a livrar-nos do nosso estado de osbcuridão?

Esta atitude paternalista, tão típica de quem se arroga o direito de definir o que está bem ou mal, independentemente do que as pessoas e a sociedade que de facto existem possam pensar ou desejar, é a responsável por tantas e tantas barbáries que se cometeram no século que acabou de passar. Nós não somos mais que um obstáculo a ultrapassar para o verdadeiro objectivo - a sociedade ideal (?) - ser atingido.

Podemos pensar que Saramago é mais um utópico, inconformado, sonhador irredímivel. É uma perspectiva. Mas atenção, ainda existem sítios onde vale a pena viver. Ficamos mais descansados. Este senhor, que recusa a democracia e apela ao voto em branco, por alegadamente o sistema estar bloqueado e não funcionar, é o mesmo que de vez em quando faz umas viagens a Cuba e não poupa elogios para descrever o que encontra á sua volta. Outra curiosidade: qual é concretamente o aspecto na democracia que Saramago fazia questão de mudar? o pormenor da expressão da vontade através do voto?

O pior dos cegos, é aquele que se recusa a ver.

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